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domingo, 29 de março de 2020

O   V A L O R   D A   E D U C A Ç Ã O

Sonhar Com Milagres  

Quando a pessoa é jovem ela sonha com milagres, quer que toda perversidade desapareça, que tudo seja sempre luminoso, belo, feliz, ela gosta de histórias que tenham um final feliz. É nisto que ela deve confiar. Quando o corpo sente suas misérias, suas limitações, a pessoa deve estabelecer nele este sonho: de uma força que não tenha nenhum limite, de uma beleza que não possua nenhuma fealdade, e de maravilhosas capacidades: ela sonha em ser capaz de elevar-se no ar, de estar onde quer que seja necessário estar, de colocar as coisas em ordem quando estão erradas, de curar os doentes; na verdade, ela tem todo tipo de sonhos quando é muito jovem. ... Normalmente, os pais ou os professores passam o seu tempo jogando água fria sobre eles, dizendo-lhe: “Oh, isto é um sonho, não é a realidade.” Eles deveriam fazer exatamente o oposto! Deveriam dizer às crianças: “Sim, isto é o que você deve tentar realizar, e isto não apenas é possível, mas certo se você entrar em contato com a parte em você que é capaz de fazer tal coisa. Isto é o que deve guiar sua vida, organizá-la, fazê-lo desenvolver-se em direção à verdadeira realidade que o mundo comum chama de ilusão.”
 
É assim que deveria ser, ao invés de tornar as crianças medíocres, com esse obtuso e vulgar senso comum que se torna um hábito inveterado, o qual, quando algo está indo bem, imediatamente surge com a ideia: “Oh, isto não vai durar!”, quando alguém é gentil, faz surgir a impressão: “Oh, ele vai mudar!”, quando alguém é capaz de fazer alguma coisa: “Oh, amanhã eu não serei capaz de fazer isto tão bem!” Isto é como um ácido, um ácido destrutivo no ser, que leva embora a esperança, a certeza, a confiança nas possibilidades futuras.
 
Quando uma criança estiver cheia de entusiasmo, nunca jogue água fria sobre ele, jamais lhe diga: “Você sabe que a vida não é assim!” Você deveria sempre encorajá-la, dizer-lhe: “Sim, no presente as coisas não são sempre desse modo, elas parecem feias, mas por trás disso existe uma beleza que está tentando se realizar. É isto que deve amar e trazer para você, isto é o que você deve tornar o objeto de seus sonhos, de suas ambições.”

 A Arte de Viver

Geralmente pouquíssimas coisas nos são ensinadas – não nos ensinam nem mesmo a dormir. As pessoas acham que devem apenas se deitar em suas camas e em seguida cair no sono. Mas isto não é verdade! A pessoa deve aprender como dormir assim como deve aprender a comer, a fazer qualquer coisa enfim. E se ela não aprender direito, então fará do modo errado. Ou levará anos e anos para aprender como fazê-lo, e durante todos aqueles anos em que aquilo é feito do modo errado, todo tipo de coisas desagradáveis acontecem. E é só depois de sofrer muito, de cometer muitos erros e fazer muitas coisas estúpidas que, gradualmente, com a idade já avançada e com os cabelos brancos, ela começa a saber como fazer algo. Porém, se quando você era bem pequeno, seus pais ou aqueles que cuidavam de você, tivessem se dado ao trabalho de ensiná-lo como fazer o que você faz, como fazê-lo corretamente da forma como deveria ser realizado, da maneira correta, então isto o teria ajudado a evitar todos, todos estes erros que você cometeu ao longo dos anos. E você não apenas comete erros, mas ninguém lhe diz que são erros! E assim você fica surpreso quando adoece, quando fica cansado, quando não sabe fazer aquilo que quer fazer, e que nunca lhe foi ensinado. A algumas crianças não se ensina nada, e assim elas precisam de anos e anos e anos para aprender as coisas mais simples, mesmo aquilo que é mais elementar: manter-se limpa....
 
Viver da maneira correta é uma arte muito difícil, e a menos que a pessoa comece a aprendê-la ainda bem jovem e a esforçar-se, ela nunca a saberá muito bem. Simplesmente a arte de manter o próprio corpo com boa saúde, a mente quieta e ter boa-vontade no coração – coisas que são indispensáveis para se viver decentemente – não digo com conforto, nem de modo notável, digo apenas decentemente. Bem, não creio que haja muitos que se deem ao trabalho de ensinar isto a seus filhos.
 
A Necessidade da Educação  
 
Vocês acham que são mandados para a escola, que são obrigados a fazer exercícios, tudo isto apenas pelo prazer de fazê-los sofrer? Oh, não! É porque é indispensável que vocês tenham uma estrutura na qual possam aprender a formar-se a si mesmos. Se vocês fizessem seu trabalho de individualização, de formação completa, por si mesmos, totalmente isolados num canto, nada em absoluto seria exigido de vocês. Mas vocês não fazem isto, vocês não fariam isto, não há uma única criança que o fizesse, ela nem mesmo saberia como fazê-lo, por onde começar. Se não fosse ensinado a uma criança como viver, ela não poderia viver, ela não saberia como fazer o que quer que fosse, nada... Se cada um tivesse que passar através de toda experiência necessária para a formação de uma individualidade, a pessoa estaria morta muito tempo antes de começar a viver! Esta é a vantagem daqueles que tiveram a experiência – acumulada ao longo dos séculos – e lhe dizem: “Bem, se você quer avançar rapidamente, conhecer em poucos anos o que foi aprendido ao longo de séculos, faça isto!” Leia, aprenda, estude e então, no campo material, você será ensinado a realizar isto desta maneira, aquilo daquela maneira, isto novamente deste modo (gestos). Uma vez que você saiba um pouco, pode encontrar o seu próprio método, se você tiver a capacidade para isto! Mas, primeiro, a pessoa deve manter-se sobre seus próprios pés e saber como caminhar. É muito difícil aprender isto inteiramente só. É assim para todos. A pessoa deve formar-se a si mesma. Para isto, ela precisa de educação.
 
Controle Seus Impulsos
 
Desde sua infância o trabalho de seus educadores é ensiná-lo a controlar os seus impulsos e a obedecer apenas aqueles que estão em conformidade com as leis sob as quais você vive ou com o ideal que quer seguir ou os costumes do meio em que habita. O valor dessa construção que governará seus impulsos depende em grande parte do meio-ambiente em que vive e o caráter dos pais ou das pessoas que o educam. Mas, seja bom ou ruim, medíocre ou excelente, é sempre o resultado de um controle mental sobre os impulsos. Quando seus pais lhe dizem: “Você não deve fazer isto”, ou quando lhe dizem: “Você deve fazer isto”, este é o início da educação para o controle da mente sobre os impulsos.
 
A Razão Deve Ser o Mestre
 
É uma boa coisa começar a aprender ainda na infância que para ter uma vida eficiente e obter do próprio corpo o máximo que ele é capaz de dar, a razão deve ser o mestre da casa. E isto não é uma questão de yoga ou de uma realização superior, é algo que deveria ser ensinado em toda a parte, em cada escola, em cada família, em cada lar: o homem foi criado como um ser mental, e para ser simplesmente um homem – não estamos falando de nenhuma outra coisa, mas apenas de ser um homem – a vida deve ser governada pela razão e não pelos impulsos vitais. Isto deveria ser ensinado a todas as crianças desde sua primeira infância... A primeira coisa que deveria ser ensinada a todo ser humano, tão logo ele seja apto a pensar, é que ele deve obedecer a razão, que é um super-instinto das espécies. A razão é o mestre da natureza da espécie humana. A pessoa deve obedecer a razão e recusar-se absolutamente a ser escrava dos instintos. E aqui eu não estou falando sobre yoga, sobre a vida espiritual, de modo algum; não tem nada a ver com isto. Trata-se da sabedoria básica da vida humana, puramente humana: todo ser humano que obedeça qualquer outra coisa que não seja a razão é uma espécie de bruto inferior ao animal. Isso é tudo. E isto deveria ser ensinado em toda parte; é a educação básica que deve ser dada às crianças.
 
O reino da razão só deve terminar com o advento da lei psíquica que manifesta a Vontade divina.
 
A Razão Se Desenvolve Com o Uso
 
Como a razão pode ser desenvolvida?
 
Oh! Sendo usada. A razão é desenvolvida como os músculos, como a vontade. Todas essas coisas são desenvolvidas por um uso racional. Razão! Todos possuem a razão, mas não fazem uso dela. Algumas pessoas têm muito medo da razão porque ela contradiz seus impulsos. Assim, elas preferem não lhe dar ouvidos. Então, naturalmente, se a pessoa cultiva o hábito de não ouvir a razão, em vez de se desenvolver, ela perde cada vez mais a sua luz.
 
Para desenvolver a razão você deve querer fazê-lo com sinceridade; se, por um lado, você se diz: “Quero desenvolver minha razão”, e por outro não ouve o que a razão lhe diz para fazer, então você nunca vai chegar a nada, porque, naturalmente, se a cada vez que ela lhe diz “Não faça isto” ou “Faça isto”, você faz o oposto, ela perderá completamente o hábito de dizer qualquer coisa.
 
Preparando a Consciência
 
Normalmente toda educação, toda cultura, todo refinamento dos sentidos e do ser é uma das melhores maneiras de corrigir os instintos, os desejos e as paixões. Eliminar essas coisas não as cura; cultivá-las, intelectualizá-las, refiná-las, eis o meio mais certo de corrigi-las. Dar ao progresso e ao crescimento o maior desenvolvimento possível, adquirir certo senso de harmonia e de precisão da percepção, esta é uma parte da cultura do ser, da educação do ser...
 
A educação é, certamente, um dos melhores meios de preparar a consciência para um desenvolvimento superior. Existem pessoas com naturezas muito pouco desenvolvidas e muito simples, que podem ter uma grande aspiração e alcançar certo desenvolvimento espiritual, mas a base será sempre de qualidade inferior. E tão logo elas retornem à sua consciência comum, encontrarão obstáculos nela, porque o estofo é ralo, não há elementos suficientes em sua consciência vital e material para capacitá-las a suportar a descida de uma força superior.
 
Os desejos de uma criança
  
Doce Mãe, como podemos ajudar uma criança a deixar esse hábito de sempre pedir?
 
Há muitas maneiras. Mas, primeiramente você deve saber se não quer apenas fazer com que ela pare de expressar livremente o que ela pensa e sente. Porque isto é o que as pessoas geralmente fazem. Elas a repreendem, às vezes até mesmo a punem; e assim, a criança forma o hábito de esconder os seus desejos. Mas ela não se vê livre deles. E vocês sabem, se é sempre dito a ela: “Não, você não terá isto”, então, simplesmente, esta concepção se estabelece nela: “Ah, quando você é pequeno, as pessoas não lhe dão nada! Você deve esperar até crescer. Quando eu for grande, terei tudo o que quero.” É isto que acontece. Mas isto não elimina os desejos. É muito difícil educar uma criança. Há um modo que consiste em dar a ela tudo o que ela deseja; e, naturalmente, no minuto seguinte ela vai querer alguma outra coisa, porque esta é lei, a lei do desejo: nunca estar satisfeito. E assim, se ela for inteligente, pode-se dizer a ela: “Veja só, você insistiu tanto para ter isto e agora já não liga mais. Quer outra coisa.” E se ela for ainda mais inteligente, ela responderá: “Bem, a melhor maneira de me curar, é dar-me aquilo que peço.”
 
Algumas pessoas nutrem essa ideia a vida inteira. Quando se diz a elas que devem sobrepujar seus desejos, elas dizem: “O meio mais fácil é satisfazê-los.” Esse tipo de lógica parece impecável. Mas na verdade não é o objeto de desejo que deve ser mudado, é o impulso de desejo, o movimento de desejo. E para isto um conhecimento considerável é necessário, e isto é difícil para uma criança muito pequena....
 
De fato, talvez se devesse direcionar o movimento para coisas que valham a pena possuir do verdadeiro ponto de vista, e que são mais difíceis de se obter. Se a pessoa pudesse voltar esse impulso de desejo em direção a... Por exemplo, quando uma criança está cheia de desejos, se ela pudesse dar a ela um desejo de natureza superior – em vez de ser um desejo por objetos puramente materiais, entendem uma satisfação inteiramente transitória – se fosse possível despertar nela o desejo de conhecer, o desejo de aprender, de se tornar uma pessoa extraordinária... dessa maneira, começando com isto. Como essas coisas são difíceis de se realizar, dessa forma, gradualmente, ela desenvolverá sua vontade para essas coisas. Ou mesmo, do ponto de vista material, o desejo de realizar algo difícil, como por exemplo, construir um brinquedo que seja difícil de fazer – ou dar-lhe um jogo de paciência que requeira uma grande dose de perseverança.

Se a pessoa puder orientá-las – isto requer muito discernimento, muita paciência, mas isto pode ser feito – e se puder orientá-las para algo assim, como conseguir realizar jogos muito difíceis ou trabalhar em algo que exija muito cuidado e atenção, e impulsioná-las em alguma linha como esta de modo a exercitar nelas uma vontade perseverante, então isto pode ter resultados: desviar sua atenção de algumas coisas e direcioná-la para outras. É preciso um cuidado constante e este parece ser um caminho que é – não posso dizer o mais fácil, pois certamente não é – mas o mais efetivo.
 
O Caminho Ensolarado - Passagens de Conversas e Textos d’A Mãe (Mira Alfassa)

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