T  O  C  H  A

Sempre a amarga solidão... mas ela não é dolorosa, ao contrário. Nela revela-se mais claramente o infinito e puro amor no qual está imersa a terra inteira. Por este amor, tudo vive e se anima; as piores sombras tornam-se translúcidas para deixar passar os seus eflúvios, e a dor mais intensa transforma-se em poderosa felicidade.

Cada volta da hélice sobre o oceano profundo parece arrastar-me para mais longe do meu verdadeiro destino, aquele que melhor expressa o Querer divino; cada hora que passa parece submergir-me ainda mais nesse passado com o qual havia rompido, certa de haver sido chamada para novas e mais vastas realizações; tudo parece arrastar-me para um estado de coisas totalmente contrário à vida da minha alma que reina incontestavelmente sobre as atividades exteriores; e, apesar da tristeza aparente da situação individual, a consciência está tão intensamente estabelecida num mundo que ultrapassa completamente os limites pessoais, que o ser inteiro exulta numa constante percepção de poder e de amor.
 

O amanhã, na ação material, é obscuro e ilegível; nenhuma luz, por mais fraca que seja, revela ao meu olhar confuso a indicação, a presença do Divino. No entanto, qualquer coisa na consciência profunda volta-se para a Testemunha Invisível e Soberana e diz-lhe: Senhor, mergulhas-me nas trevas mais opacas; é porque estabeleceste tão fortemente em mim a Tua luz que sabes que resistirá a esta perigosa prova. Ter-me-ias escolhido para descer no turbilhão deste inferno para que transporte o Tua tocha? Julgarás que o meu coração é assaz forte para não desfalecer, a minha mão assaz firme para para não tremer? E, no entanto, o ser individual sente-se impotente e fraco; quando não manifestas a Tua presença, está mais desarmado do que a maioria daqueles que Te ignoram ou Te negligenciam. Só em Ti está a sua força e a sua capacidade. Se Te apraz servir-Te dele, nada será demasiado difícil de realizar, nenhuma tarefa demasiado vasta e complexa. Mas se Te retiras, nada mais resta senão uma pobre criança capaz somente de se aninhar em Teus braços e de aí adormecer nesse doce sono sem sonhos onde apenas Tu existes.

A Mãe (Mirra Alfassa)

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