DESCENDO DAS ALTURAS
DO INTELECTUAL ROMANTISMO IMAGINATIVO
Pergunta: Foi sugerido que o poder que fala através de si pertence aos
planos superiores e não pode ser transmitido abaixo do intuitivo, por
conseguinte temos que escutar mais com a nossa intuição se quisermos
compreender a sua mensagem. Isso é correto?
Krishnamurti: O que quer dizer com intuição? O que significa para vocês
todos a intuição? Dizem que é algo que sentimos instintivamente sem
passar pelo processo da razão lógica; um “pressentimento” como diriam os
Americanos. Ora na realidade eu questiono se a vossa intuição é real ou
apenas as esperanças inconscientes glorificadas; anseios subtis,
enganadores. Sabem, quando ouvem falar da reencarnação, ou quando ouvem
um conferencista falar da reencarnação, ou leem um livro sobre ela, e
tiram conclusões e dizem, “Sinto que é verdade, tem que ser”, chamam a
isso intuição. É realmente intuição, ou é a esperança de que terão uma
outra oportunidade para viver a próxima vida; por isso se ligam a ela, e
lhe chamam intuição? Esperem um momento. Não estou a negar que existe
intuição, mas ao que a pessoa comum chama intuição, e isso não é
verdade, isso é algo sem razão, sem validade, sem compreensão por trás
disso.
Ora o interlocutor diz que foi sugerido que o poder que fala através de
mim pertence aos planos superiores, e não pode ser transmitido abaixo do
intuitivo. Certamente compreendem aquilo de que falo, não compreendem? É
bastante óbvio. Agora esperem um momento. É fácil compreender aquilo de
que falo, mas se não o procurarem, se não o puserem em ação, não há
compreensão; e porque não o põem em ação, transferem-no antes para o
mundo intuitivo, e por esse motivo dizem que se sugere que falo de um
plano superior, e por isso têm que ir ao vosso superior e tentar
compreender o que isso significa. Por outras palavras, embora
compreendam razoavelmente bem o que estou a tentar dizer, é difícil
pô-lo em ação; por isso, vocês dizem “Vamos antes removê-lo para um
plano superior, e a partir daí podemos discuti-lo”. Não é assim? Se
disserem, “Não compreendo do que fala”, então há a possibilidade de mais
discussão. Tentarei então explicá-lo de maneira diferente, para que o
possamos discutir, aprofundar, considerar em conjunto; mas começar com a
suposição de que para me compreenderem têm que ir ao plano superior –
sem dúvida que há algo radicalmente errado nessa atitude. Qual é o plano
mais elevado, excepto esse que é o pensamento? Porquê ir mais além? Mas
não vêem que o que quero dizer é que estamos a começar com algo
misterioso, algo distante, e a partir daí tentamos descobrir o óbvio, as
realidades, e portanto, elas forçosamente são enormes desilusões,
enormes ações hipócritas, limitadas à falsidade? Ao passo que, se
começarmos com as coisas que conhecemos, que são simples de descobrir se
pensarem nelas, então podem realmente ir longe, infinitamente. Mas é
absurdo começar do misterioso, e depois tentar relegar a vida a esse
mistério, que pode ser romanticismo, pode ser falso, imaginativo. Uma
tal atitude da mente que diz, “Para compreender temos que escutar com a
nossa intuição”, pode ser falsa, portanto eis porque eu disse que as
vossas intuições podem ser completamente falsas. Como podem escutar com
algo que pode ser falso, que pode ser as vossas esperanças, predileções,
anseios ou sonhos? Porque não escutar com os vossos ouvidos, com a
vossa razão? Daí, quando conhecem a limitação da razão, então podem
prosseguir – isto é, para subirem alto têm que começar por baixo; mas já
subiram alto, e não têm mais para onde ir. É esse o problema com todos
vocês. Subiram às alturas intelectualmente; naturalmente os vossos seres
estão vazios, são arrogantes. Ao passo que, se começarem de perto,
então saberão como subir, como mover-se infinitamente.
Sabem, todos estes são meios e maneiras de exploração. É a maneira dos
sacerdotes – complicar os assuntos, quando as coisas são infinitamente
simples. Não aprofundarei o que tenho que dizer, já o expliquei vezes
sem conta; mas complicá-lo, revesti-lo de todo o tipo de tradições ou
preconceitos e não reconhecer os vossos preconceitos, eis onde reside a
hediondez.
Krishnamurti
Fonte-pensarcompulsivo
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