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domingo, 9 de abril de 2017

A VERDADEIRA SIMPLICIDADE 
ESTÁ NO DESAPEGO



... Se um homem, na verdade, estiver buscando a plenitude da Vida, jamais pode ter guia, não pode ter mestre, não pode se tornar discípulo de ninguém, nem seguir sistema algum. O que chamais unidade, nada mais é do que uniformidade, pondo a vós próprios no centro e toda a gente ao redor. Todo o discipulado e proselitismo tende a produzir isto, esta padronização da Verdade, que é um erro inconcebível; no entanto, é isto que vos esforçais por fazer. Tenho insistido repetidamente em dizer que não deveis aceitar o que eu digo. Não deveis seguir a Krishnamurti, porque Krishnamurti não existe. Podeis é certo compreender o significado do que vos estou dizendo e, se o quiserdes, traduzi-lo por vós mesmos na vida prática. Não digais, porém, “Krishnamurti diz isto, Krishnamurti diz aquilo”. Não vedes que assim estais estabelecendo um outro molde? Tendes vos liberto de outros moldes, tendes posto de lado outros instrutores e estais agora elegendo a Krishnamurti em outro guia, em outro salvador. Quisera que averiguásseis a vital importância disto, isto é, perceber que o seguir a outrem é completa negação daquilo que vos estais esforçando para realizar. Aceitar qualquer coisa inconsideradamente, ainda que seja eu que a diga uma centena de vezes, é a completa traição da Verdade.

 
Porque seguis, porque criais imagens para adorar? Porque não ousais fazer face à vossa solidão? Não ousais vos tornar inteligentes e por esse meio destruir a pobreza da vacuidade. Encontrareis, portanto, uma centena de desculpas para vos tornardes discípulo, para apaziguar o conflito, o único que vos proporciona entendimento. A Verdade está em vós próprios, está em todas as coisas e não somente em mim. Eu penetrei essa Realidade, conheço o êxtase dela, sei o que ela significa. Ela é ilimitável, não pode ser transmitida por meio de palavras, e eu quero que vós a realizeis, não me copiando, porém, atravessando as muitas camadas do eu-consciência, coisa que somente vós podereis fazer. Quando houverdes realizado isto, então não mais haverá “tu” nem “eu”, não mais haverá mestre nem discípulo; então o meditador é a meditação.

 
Se apanhardes qualquer revista, se ponderardes sobre as pessoas que vos rodeiam, haveis de verificar que o pensamento e a emoção estão padronizados. A civilização tem a tendência de vos modelar segundo um molde particular. Tendes que vos libertar completamente da vontade coletiva e esta é uma das coisas mais difíceis de se fazer. Enquanto não houverdes liberto a vós mesmos deste embaraço, não podereis realizar em vós mesmos aquilo que é eterno. Tendes que vos tornar uma luz para vós mesmos e então não haverá temor de fracasso, nem esperança de êxito. Não mais haverá coisa parecida com engano ou falência. Quando tiverdes um padrão, então haverá falência; se, porém, estiverdes vivendo com intensidade, não haverá falência e sim o contínuo ajustamento; portanto, não há autoridade, não há distinção, não há mestre, nem discípulo. O eterno é isento de distinções entre “tu” e “eu”.

 
Ora, vós estais justamente fazendo o oposto. Estais perpetuando as distinções nas quais se encontra o mestre, sempre alguns passos diante de vós e vós seguindo-o, indo atrás dele. A sabedoria não tem diferenciações; vós, porém, pensais que, para vos tornardes sábios, precisais de seguir a outrem que esteja mais avançado que vós. Podeis adquirir ciência de outrem, ou conhecimento, porém, isto não é sabedoria. Sabedoria é a percepção imediata que liberta a mente de toda a individualidade por meio da inteligência e da vigilância constante. Tornar-se discípulo, mais não é do que desejo; seguir um instrutor, nada mais é do que criar uma nova camada de ignorância.

 
Sei que muitos dentre vós são bastante instruídos e temo, digo-o, ser isto um embaraço. Haveis lido tanto, adestrado a tal ponto a vossa mente, que haveis perdido a vitalidade do pensar. Tendes meditado, amoldado a vossa mente tão completamente que perdestes de vista ao modelador que é o vosso próprio desejo. Para realizar aquilo que é verdadeiro tendes que vos libertar da carga da erudição; não quer isto dizer que não leiais, porém, deveis vos libertar do desejo de seguir a outrem ou de amoldar o que estou dizendo a uma concepção intelectual; a qual destrói a vossa compreensão da plenitude da Vida. Portanto, por favor, não façais de mim vosso destruidor. É isto que fareis toda vez que disserdes “Krishnamurti diz”. Eu quero que vivais, que conheçais o êxtase da Vida o qual não é estímulo, que não é uma auto-decepção, porém sim, essa alegria que surge por meio da penetração das camadas do eu-consciência.

 
“Não haverá possibilidade de terdes discípulos inteligentes no futuro?” Espero nunca vir a ter discípulos, sejam eles inteligentes ou estúpidos. Pois não vedes? Estou falando acerca de algo muito maior do que o se tornar meu discípulo, de algo que por vós próprios podeis realizar, afim de vos libertardes desta ideia destrutiva de um guia, um mestre um seguidor; algo que podeis viver e do qual não podeis duvidar, que é o vosso verdadeiro ser, no qual não existe distinção de “tu” e “eu”, de corpo, mente e emoções, onde o manifesto e o imanifesto são um.

 
“Porque, pois, haveis dito que mudaríeis a face do mundo com a ajuda ainda que não fosse senão de um ou dois que vos compreendessem?” Se os poucos dentre vós que me escutam realmente compreendessem; se rompêsseis com as vossas tradições, os vossos cativeiros, a vossa vontade coletiva e pessoal; se estivésseis vigilantes, apercebidos, plenamente responsáveis pelas vossas ações — não modificaríeis o ambiente que vos rodeia? A política, a economia, a sociologia, todos os múltiplos departamentos do esforço humano são semelhantes a ramos de uma árvore. Se olhardes para a raiz da árvore, se vigiardes para que estejam bem nutridas, então os ramos serão perfeitos. Isto, porém, só acontecerá se vós, os poucos que escutais, operardes uma modificação em vossa mente e coração. Isto significa que tendes que estar fortemente desapegados, sabiamente desprendidos tanto das coisas como das pessoas. A verdadeira simplicidade não se preocupa com que tenhais muito ou pouco. Acha-se completamente livre da ideia de posse.

 
Krishnamurti
Fonte:pensarcompulsivo

"Toda sensação de perda 
vem da falsa sensação de posse".
(Buda)
 

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