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quarta-feira, 19 de abril de 2017

A SENSIBILIDADE

 
Quantas vezes passais por camponeses a transportarem pesados fardos! O que sentis nessas ocasiões? O que sentis por essas pessoas, por aquelas pobres mulheres esfarrapadas, esquálidas, suarentas, mal nutridas, que trabalham dia após dia, sem garantia alguma, em troca de um magro salário? Andais tão assustados, tão ocupados com vós mesmos, vossas preocupações, vossa aparência, vossas roupas, que nunca lhes dais um pouco de atenção.

Sentis que sois muito melhores, que sois uma classe diferente e, por isso, vós não lhes prestais a mínima atenção. Mas quando os vedes passar, o que sentis? Não sentis nenhum desejo de ajudá-los? Dar-lhes ajuda? Isso indica vossa maneira de pensar. Estais tão embotados pela tradição, por vossos pais e mães, pela prática secular da opressão, que porque sois um rapaz ou uma moça de certa classe, achais que lhes deveis não dar atenção.

Estais deveras tão asfixiados que não sabeis o que se passa ao derredor? Assim gradualmente, o medo – medo do que dizem os pais, do que dizem os mestres, medo da tradição, medo da vida – destroi a sensibilidade. Sabeis o que é a sensibilidade? É ser sensível, receptivo, compreensivo, é ter compaixão pelos que sofrem, ser capaz de afeição, estar consciente do que se passa ao redor de nós.

Ouvis soar o sino do templo; prestais atenção a isso? Escutais o som? Vedes os reflexos do sol nas águas? Vedes os pobres, os aldeãos, há séculos dominados e pisados por exploradores? Sois sensível a tudo o que se passa em torno de vós? Ao verdes uma criada levando um pesado tapete, vós a ajudais? Tudo isso implica sensibilidade.

Como vedes, a sensibilidade se destrói quando uma pessoa é disciplinada, quando sente medo, só se preocupa consigo. Sabeis o que significa uma pessoa que só cuida de si? É uma pessoa que só cuida de sua própria aparência, de suas roupas, que só pensa em si, a todas as horas – como o faz a maioria de nós, de um ou outro modo – de maneira que sua mente e seu coração se fecham e ela perde toda capacidade de apreciar o belo.

Ser realmente livre implica muita sensibilidade. Não há liberdade se vos fechais pela prática de várias disciplinas. Como quase tudo que fazeis na vida é imitação, perdeis a sensibilidade, perdeis a liberdade. É importantíssimo que, enquanto aqui estais nesta escola, seja lançada a semente da liberdade para que, em toda a vossa vida prevaleça a inteligência, que é liberdade. Com essa inteligência podereis examinar todos os problemas da vida.

Trecho de palestra de Krishnamurti

 


“Eu posso lhe dar a flor, 
mas como posso lhe dar a fragrância?”

 

 Atenção e Sensibilidade

 
Você não pode ser sensível apenas em uma dimensão. A sensibilidade pertence à totalidade de seu ser, ou seja: você é sensível em todas as dimensões.

Seja mais perceptivo e aumente sua capacidade de observação. Se estiver andando sob o sol e sentir os raios de sol em seu rosto, seja sensível a seu toque sutil. E preste atenção também no momento em que a luz interna o atingir.

Quando você estiver sentado em um parque, sinta a grama, o verde a seu redor, a diferença na umidade, o cheiro da terra. Se você não conseguir, você não terá acesso a seus próprios sentimentos quando eles começarem a acontecer.

Sinta o que está a seu redor, este é o caminho mais fácil. Se não conseguir estabelecer um conexão com o exterior, você não poderá sentir o seu interior. Seja mais poético e menos pragmático em sua vida. Às vezes não custa nada ser sensível.

Ao tomar banho, você sentiu bem a água? O banho faz parte de sua rotina: cinco minutos e mais nada. Fique embaixo do chuveiro e deixe que a água caia sobre você durante alguns minutos. Isso pode se transformar em uma experiência profunda, porque a água é vida. Se não conseguir sentir a água caindo em você, não conseguirá perceber suas próprias marés internas.

A vida nasceu no mar e 90% de seu corpo é feito de água. Vá nadar no mar e sinta a água em volta de seu corpo. Logo você saberá que faz parte do mar e que seu ser interior pertence ao mar. Quando a lua estiver no céu e o oceano acenar com suas ondas em resposta, seu corpo também responderá (marés externa e interna). Seu desafio é sentir essa emoção. Se você não for capaz de sentir uma coisa tão simples, será difícil você conquistar algo tão sutil quanto a meditação.

Como você pode sentir amor? Todos estão sofrendo. Eu vi milhares de pessoas em profunda dor. O sofrimento é por causa do amor. As pessoas querem amar e querem ser amadas, mas o problema é que, se você amá-las de fato, elas não poderão sentir isso. Continuarão perguntando: "Você me ama?" O que fazer, então? Se você disser que sim, elas não acreditarão porque não podem senti-lo. Se disser que não, elas se sentirão feridas.

Se você não puder sentir os raios de sol, a chuva, a grama ou o mundo externo que o cerca, então não poderá sentir coisas mais profundas, como amor e compaixão. Raiva, violência e tristeza são emoções muito evidentes, cruas, fáceis de serem alcançadas. Mas o caminho que nos leva para dentro é sutil, e quanto mais sutil sua meditação se tornar, mais sutis serão os sentimentos. É preciso estar preparado.

A meditação não é uma coisa que você faz durante uma hora e depois deixa de lado. De fato, toda a vida tem que ser meditativa. Somente então você começará a sentir as coisas. E quando digo que toda a vida deve ser meditativa, não estou sugerindo que você deve ficar sentado meditando durante 24 horas por dia - NÃO!

Você pode ser sensível onde quer que esteja e a sensibilidade lhe trará algo em retorno. Pense menos, sinta mais. Volte a sentir as coisas. Viva de acordo com seu coração, e não de acordo com sua mente. Brinque um pouco, sorria, chore, cante, faça algo espontaneamente. Relaxe seu corpo, sua respiração e mova-se como se fosse novamente uma criança.

Esqueça-se da alma e viva totalmente no corpo, porque o grau de sensibilidade que você tem com o seu corpo determina sua relação com a sua alma. Lembre-se disso. Pare de dar voltas ao redor do corpo e reassuma seu lugar. Todos têm medo de estar no corpo. A sociedade criou o medo e agora o medo está profundamente enraizado.

Retorne para o seu corpo, movimente-se novamente como um animal inocente. Observe os animais saltando e correndo e imite-os: salte e corra com eles. Esta é a senha para voltar a seu corpo e recomeçar a sentir os raios do sol, a chuva e o vento.

Você só vai conseguir sentir o que está acontecendo dentro de si mesmo quando sua capacidade de prestar atenção ao que ocorrer ao seu redor estiver funcionando de forma plena.

Fonte: Osho, Uma farmácia para a alma 
 

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