SOBRE A DESORDEM MENTAL
PERGUNTA: Na investigação do medo, não há perigo de desordem mental?
KRISHNAMURTI:
Pode haver maior perigo de desordem mental do que na mentalidade com
que estamos vivendo hoje em dia? Não estamos todos — se me perdoais
assinalá-lo — um tanto ou quanto mentalmente desordenados? Não quero ser
indelicado; não é minha intenção ou idéia julgar-vos. Mas existe essa
grande preocupação sobre o perigo de aumento das doenças mentais. Sabeis
o que nos está pondo doentes? Não é a investigação do temor. As
guerras, o comunismo, o fanatismo religioso, a ambição, a competição, o
esnobismo — essas coisas são sintomas de uma pessoa mentalmente doente.
Por certo, a investigação do medo e o libertar a mente do medo é a mais
sã das coisas. Essa pergunta indica que consideramos a atual sociedade
uma coisa maravilhosa — não é exato? Os que têm um substancial depósito
no banco e estão bem de vida devem achar que está tudo certo, e não
desejam perturbações. Mas a vida é bem perturbadora, sobremodo
destrutiva; e é disso que temos medo. Não estamos interessados no viver,
no ser livre de medo; mas desejamos encontrar um cantinho onde ficar em
segurança e conforto, a decompor-nos sossegadamente. Senhores, isto não
é retórica; é nosso desejo interior, nosso desejo secreto. Buscamos
essa segurança em todas as relações. Quanto ciúme e quanta inveja
existem em nossas relações! Quanto ódio, quanta esposa abandona o marido
ou o marido “foge com outra”! Como buscamos o beneplácito da sociedade e
as bênçãos da igreja! Senhor, são todas essas coisas que ocasionam a
deterioração, a destruição da sanidade mental.
PERGUNTA: Estas coisas são inteiramente novas para nós e acho que temos de “continuar com elas”.
KRISHNAMURTI:
Senhor, não podeis “continuar com elas”. Se fazeis, elas se tornam
meras idéias, e as idéias não podem criar nada novo. Estamos falando
sobre a destruição total das coisas que a mente construiu interiormente.
Não se pode “continuar” com a destruição; se o fizerdes, isso será,
meramente, construção, levantamento de uma nova estrutura contra aquilo
que deve ser destruído.
Nós
necessitamos de uma mente nova, uma mente jovem, um novo coração, uma
mente purificada, juvenil, decidida; e para se ter essa mente, tem de
haver destruição; tem de haver criação sempre nova.
Krishnamurti - 10 de agosto de 1961
Do livro: O PASSO DECISIVO – Ed. Cultrix
Fonte: pensarcompulsivo
Nenhum comentário:
Postar um comentário