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sexta-feira, 3 de março de 2017

NÃO SE DEVE RIR DOS RISCOS



Pergunta: Tenho muito dinheiro. Você pode me informar qual é a verdadeira utilidade do dinheiro? Só peço que não me aconselhe a desbaratá-lo em esmolas aos pobres. O dinheiro é um instrumento de trabalho que deve ser utilizado e não uma coisa incômoda de que devemos nos livrar.

Krishnamurti: Senhor, em primeiro lugar, como você ganha dinheiro? Como acumula dinheiro? Evidentemente pela exploração, pela crueldade, pela barbaridade. No mundo moderno, em que predomina a mentalidade de “cada um por si”, o homem tem de ser hábil, astucioso, desonesto, para acumular dinheiro. Não nos enganemos a esse respeito; ser rico implica crueldade. Senhor, não sabe que o rico não pode entrar no reino dos céus? É mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha. Depois de você acumular dinheiro, o que acontece? Deseja saber como emprega-lo: ou você se torna filantropo, ou deseja gastá-lo corretamente. Isto é, você acumula dinheiro incorretamente e depois quer gastá-lo corretamente (risos). Senhores, o caso não é para rir. É isso que estamos fazendo. Não devem rir dos ricos. Vocês também querem ser ricos. Vocês acumulam e depois querem saber como empregar o dinheiro corretamente. Como isso é possível?

Suponhamos, contudo, que me tenham deixado dinheiro — o que graças a Deus não aconteceu — suponhamos que me deixaram algum dinheiro. Que vou fazer com ele? Que devo fazer depois de entrar na posse do dinheiro, como devo emprega-lo? Este é o problema. Devo dá-lo todo aos pobres e também ficar pobre, na dependência de outros? Devo guardar um pouco e dar o resto? Devo emprega-lo como um meio correto, para um fim correto? Devo colocá-lo para render? Meu problema, pois é este: tendo adquirido ou herdado essa coisa que se chama dinheiro, que devo fazer com ela? Senhor, isso depende do coração e não da mente; a mente que acumulou dinheiro nunca é generosa. É uma mente endurecida, e em tais condições é incapaz de lidar com coisas materiais do seu próprio nível. Por conseguinte, só um coração que conhece o amor pode resolver este problema, e não a mente, nem sistema algum. Se você tem amor no coração, saberá o que fazer com o dinheiro — ou dá-lo todo, porque é incômodo, ou proceder de outra maneira, de acordo com os ditames de seu coração. Todavia, conhecer os ditames de um coração afetuoso, é dificílimo, em particular aos ricos, porque nunca pensaram em tais termos de ação. Habituaram-se à crueldade, à dureza; e encarar o problema com afetuosa consideração é dificílimo. Assim, mais importante do que o dinheiro é o amor; e se vocês têm dinheiro e percebem que o coração de vocês está vazio, o problema não é, nesse caso, o dinheiro, mas o despertar as energias, o perfume, a beleza do coração; e quando os tiverem despertado, saberão como agir. Sem amor, tornar-se filantropo, meramente, constitui outra forma de exploração. Quando se tem amor, então o amor mostrará o caminho, tanto ao rico como ao pobre. Porque, Senhor, o amor é a única solução; o amor é o único caminho pela qual poderemos sair desta contradição de ser rico e saber o que fazer com a riqueza. Sem amor, o simples cogitar sobre o que fazer com a riqueza se torna outra forma de fuga de nossa miséria, nossa luta, nosso vazio.
 
 
 
Jiddu Krishnamurti — Da insatisfação à felicidade
Fonte: pensarcompulsivo
 
 

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