PACIÊNCIA CONOSCO
Antes de atacarmos o próximo com as irradiações perturbadoras ou destrutivas da cólera, desintegramos as próprias energias, convertendo o cérebro num caos e a palavra num estilete invisível, na ação desvairada de nossa inconsequência.
Tenhamos serenidade diante de nós, consagrando a auto-disciplina por diretriz da própria alma, em qualquer circunstância.
Guardemos calma, diante das forças
conturbadas que eventualmente nos cerquem e deixemos o verbo ou a
decisão para a hora do equilíbrio, certos de que a desarmonia, em nós ou
fora de nós, é sempre nuvem pesada de mortíferos dardos de treva,
desanimo, aflição e morte.
Tem paciência contigo e usarás a verdadeira tolerância com os outros.
Cerra as portas da consciência aos impulsos da animalidade primitivista, não dês guarida ao raio da violência que te induz a desatinos fatais e aprenderás que a paciência vale mais que o repouso, simbolizando no firmamento de nosso espírito o arco-íris da aliança, entre nossa alma e a Harmonia Celeste, elevando-nos a insignificância de criaturas incipientes e frágeis do Universo para a luz soberana da Grandeza Divina.
Habitualmente, paciência é um artigo que aspiramos a adquirir de exportação
alheia, na loja da vida.
Para pesquisar, entretanto, a existência desse talento em nós, urge observar as
nossas reações no cotidiano.
Para isso, não é a manifestação menos desejável do próximo que nos favorecerá o
estudo preciso e sim o próprio comportamento analisado por nós mesmos.
O chefe que se desmandou em gritaria terá encontrado motivos para agir assim, em
vista das aflitivas questões que lhe esfogueiam o pensamento.
O subordinado que aderiu à rebeldia, entrou, possivelmente, em perturbação,
induzido pelas constrangedoras necessidades materiais que lhe corroem o mundo
íntimo.
O amigo que se aborreceu indebitamente conosco decerto abraçou semelhante
procedimento, impulsionado por lamentáveis equívocos.
O adversário que se fez mais azedo, atirando-nos pesadas injurias, terá descido
a crises mortais de ódio, reclamando, por isso, mais ampla dose de compaixão.
O companheiro que nos espanca mentalmente com o relho da cólera jaz, sem dúvida,
ameaçado de colapso nervoso, exigindo o socorro do silêncio e da oração, a fim
de não cair em moléstia mais grave. O irmão que abraçou aventuras menos felizes,
provavelmente haverá resvalado na sombra de perigosa ação obsessiva, cujos
meandros de treva não somos ainda capazes de perceber.
Paciência é tesouro que acumulamos, migalha a migalha de amor e entendimento,
perante os outros; para conquistá-lo, no entanto, é forçoso saibamos justificar
com sinceridade a irritação e a hostilidade, sempre que surjam naqueles que nos
rodeiam.
Em tese'>síntese, se desejamos a própria integração com os ensinamentos do Cristo, é
imperioso compreender que todos os irmãos destrambelhados em fadiga ou
desfalecentes na prova, ainda incientes quanto às próprias responsabilidades,
têm talvez razão de perder o próprio equilíbrio, menos nós.
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