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domingo, 13 de setembro de 2020

 PORQUE SOFREMOS


Toda culpa acarreta uma pena — é esta a inexorável biologia do universo espiritual. Toda desordem tem de ser reintegrada na ordem por meio do sofrimento.
 
Se a desordem é prole dum gozo ilegal, só pode a ordem ser filha dum desgozo, dum sofrimento.
 
Se o prazer ilegal macula, a dor redime.
 
Entretanto, como dizíamos, a finalidade da dor não se cifra nesse papel negativo, nesse pagamento de débito, nesse simples restabelecimento da ordem perturbada pela culpa. A dor tem também caráter de crédito, tem uma função nitidamente positiva e construtora — e é precisamente isto que dá conforto, coragem e serenidade a todo humano sofredor.
 
A dor, quando compreendida, é um poderoso fator de evolução rumo às alturas, é um veemente estímulo de progressiva espiritualização da vida.
 
Não afirmamos que a dor, considerada em si mesma, tenha caráter redentor, mas, sim, que Deus se serve do sofrimento para redimir o homem das suas misérias e imperfeições.
 
Não foi o sofrimento de Cristo que redimiu a humanidade — mas foi Jesus que, por meio do seu sofrimento, nos redimiu. E assim continua a ser através de todos os séculos: Deus redime o homem por meio da dor.
 
Não nos pode a redenção de Cristo libertar da Geena de Satã se o homem não se libertar da irredenção do seu egoísmo e orgulho, do inferno do seu ódio e da Sodoma da sua luxúria.
 
É a dor, esse anjo de Deus vestido de crepe, que descerra ao homem cativo às portas do cárcere, para que entre no vasto e luminoso reino da liberdade dos filhos de Deus.
 
Esse emissário da Divindade, é certo, tem algo de funéreo, de noturno, de triste e lacrimoso — mas brilham-lhe nos olhos esperanças de felicidade e sorriem-lhe nos lábios alvoradas de vida imortal.
 
Ninguém pode amar o sofrimento por causa dele mesmo, assim como ninguém pode gozar o desgozo — mas o sofrimento, quando compreendido em sua suprema finalidade, pode ser tolerado com serenidade e até abraçado com amor.
 
Pode o homem, através de muitas lágrimas, chegar a encontrar mais profunda quietação espiritual na noite estrelada das suas dores do que no dia meridiano dos seus prazeres.
 
A treva é silenciosa e pressaga – mas no alto brilham os luzeiros de Deus, cujo silêncio diz mais ao homem espiritualizado pela dor do que todos os ruídos do dia profano.
 
Existe uma misteriosa alquimia que em ouro de lei converte todos os minérios, até a substância mais vil — e é do cadinho do sofrimento que o homem extrai esse metal precioso.
 
Quem vive o Evangelho de Cristo conhece o segredo dessa alquimia.
 
Se o homem moderno não sabe sofrer com serenidade é porque, quando muito, crê no Cristo do passado – mas não vive o Cristo do presente…
 
Não bastam herbários mortos nem palhas secas de humana teologia – são necessárias as ”águas vivas” do Cristo que brotam dos rochedos vivos da eternidade e jorram para a vida eterna,…
Companheiros de jornada e de destino, sigamos o Cristo, rumo ao Calvário — e rumo à ressurreição…
 
Huberto Rohden - Trecho do livro "Porque Sofremos"
https://ihgomes.wordpress.com

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