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terça-feira, 15 de maio de 2018

VISÕES DE UM MUNDO REAL



Pergunta: Qual é o método do Instituto para o desenvolvimento harmonioso do homem?
 
Gurdjieff: O método é subjetivo, isto é, depende das peculiaridades individuais de cada pessoa. Existe apenas uma regra geral que pode ser aplicada a todos – a observação. Isso é indispensável para todos. No entanto, essa observação não é para mudar, mas para ver a si mesmo. Todos têm suas peculiaridades próprias, seus hábitos próprios que um homem não costuma ver. É preciso ver essas peculiaridades. Dessa forma pode-se "descobrir muitas Américas." Cada pequeno fato tem a sua própria causa básica. Quando você tiver coletado material sobre si, será possível falar; no momento, a conversa é apenas teórica. Se colocarmos peso de um lado, temos de equilibrar de alguma forma. Ao tentar observar a nós mesmos, adquirimos prática na concentração, o que será útil até mesmo na vida cotidiana.

 
P: Qual é o papel do sofrimento no auto desenvolvimento?
 
G: Existem dois tipos de sofrimento: o consciente e o inconsciente. Somente um tolo sofre inconscientemente. Na vida existem dois rios, duas direções. No primeiro, a lei é para o próprio rio, não para as gotas de água. Somos gotas. Em um determinado momento uma gota está na superfície, em outro, no fundo. O sofrimento depende de sua posição. No primeiro rio o sofrimento é completamente inútil, porque é acidental e inconsciente. Paralelamente a este rio há outro rio. Neste outro rio existe um tipo diferente de sofrimento. A gota no primeiro rio tem a possibilidade de passar para o segundo rio. Hoje a gota sofre porque ontem ela não sofreu o suficiente. Aqui a lei da retribuição opera. A gota também pode sofrer com antecedência. Cedo ou tarde se paga por tudo. Para o Cosmos não há tempo. O sofrimento pode ser voluntário e só o sofrimento voluntário tem valor. A pessoa pode sofrer simplesmente porque se sente infeliz. Ou pode sofrer pelo ontem e para preparar para o amanhã.
Repito, somente o sofrimento voluntário tem valor.
 
 
P: Cristo era um mestre com uma preparação de escola, ou ele era um gênio acidental?
 
G: Sem conhecimento ele não poderia ter sido o que ele era, nem poderia ter feito o que fez. Sabe-se que onde ele estava havia conhecimento.
 
 
P: Se somos apenas mecânicos, que sentido tem a religião?
 
G: Para alguns a religião é uma lei, uma orientação, uma direção; para outros, um policial.
 
 
P: Em que sentido foi dito em uma palestra anterior que a Terra é viva?
 
G: Não somos apenas nós que estamos vivos. Se a parte está viva, então o todo estará vivo. Todo o universo é como uma corrente e a terra é um elo desta corrente. Onde há movimento, há vida.
 
 
P: Em que sentido é dito que aquele que não morreu não pode nascer?
 
G: Todas as religiões falam sobre a morte durante esta vida na Terra. A morte deve vir antes do renascimento. Mas o que deve morrer? A falsa confiança no seu próprio conhecimento, o amor próprio e o egoísmo. Nosso egoísmo deve ser quebrado. Devemos entender que somos máquinas muito complicadas e portanto esse processo de quebra está fadado a ser uma tarefa longa e difícil. Antes que o crescimento real possa tornar-se possível nossa personalidade deve morrer.
 
 
P: Será que Cristo ensinou danças?
 
G: Eu não estava lá para ver. É necessário distinguir entre danças e ginástica, são coisas diferentes. Nós não sabemos se seus discípulos dançavam, mas sabemos que onde Cristo teve sua formação, eles certamente ensinavam "ginásticas sagradas".
 
 
P: Existe algum valor nas cerimônias e ritos católicos?
 
G: Eu não estudei o ritual católico, mas conheço os rituais da Igreja grega muito bem, e neles, sublinhando a forma e a cerimônia, há um significado real. Toda cerimônia, se ela continua a ser praticada sem alteração, tem valor. Os rituais são como as danças antigas que eram guias nos quais a verdade era escrita. Mas, para entender devemos ter uma chave.
 
As danças folclóricas antigas também tem significado, algumas até contêm coisas como receitas para fazer geleia. Uma cerimônia é um livro em que há muita coisa escrita. Qualquer um que entenda pode lê-lo. Em uma cerimônia há mais coisas contidas do que em uma centena de livros. Normalmente, tudo muda, mas os costumes e as cerimônias podem permanecer inalterados.
 
 
P: A reencarnação das almas existe?
 
G: A alma é um luxo. Ninguém ainda nasceu com uma alma totalmente desenvolvida. Antes de podermos falar de reencarnação, devemos saber que tipo de homem estamos falando, que tipo de alma e que tipo de reencarnação. A alma pode desintegrar imediatamente após a morte ou pode fazê-lo depois de um certo tempo. Por exemplo, uma alma pode ser cristalizada dentro dos limites da terra e pode permanecer lá, e ainda não ser cristalizada para o sol.
 
 
P: As mulheres podem trabalhar assim como os homens?
 
G: Diferentes partes estão mais altamente desenvolvidas nos homens e nas mulheres. Nos homens, é a parte intelectual, a que chamaremos A; nas mulheres a parte emocional, ou B. O trabalho no Instituto é por vezes mais ao longo da linha A, e nesse caso é muito difícil para B. Em outros momentos, é mais ao longo da linha B, em cujo caso é mais difícil para A. Mas o que é essencial para a compreensão real é a fusão de A e B. Isso produz uma força que chamaremos de C. Sim, há chances iguais para homens e para mulheres.


G. I. Gurdjieff 
 http://ricardo-yoga.blogspot.com.br

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