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terça-feira, 15 de março de 2016

SOLIDÃO E CONTEMPLAÇÃO

A verdadeira solidão não é qualquer coisa exterior a vós, não é a ausência de gente e de ruído em torno de vós: é um abismo a abrir-se no centro da vossa própria alma.

E esse abismo de solidão interior é criado por uma fome que nenhuma coisa criada pode satisfazer.

O caminho único para encontrar a solidão é a fome, a sede, a tristeza, a pobreza e o desejo, e o homem que pôde achá-la está tão vazio como se a morte o tivesse esvaziado.

Ultrapassou todos os horizontes. Já não lhe resta qualquer caminho pode onde possa enveredar. Ela é a zona cujo centro está em toda a parte e a circunferência em parte alguma. Não é viajando que a encontrareis, mas permanecendo imóvel.

No entanto, é em tal solidão que as mais fecundas atividades têm seu começo. É aí que conhecereis a ação sem movimento, o esforço que é profundo repouso, a visão nas trevas, e, para mais além de qualquer desejo, uma plenitude cujos limites se estendem até ao infinito.


A contemplação é também a resposta a um chamado. Um chamado daquele que não tem voz e no entanto se faz ouvir em tudo que existe, e que, sobretudo, fala nas profundezas de nosso próprio ser, pois nós somos palavras dele. Mas somos palavras que existem para responder a ele, atendê-lo, fazer-lhe eco e mesmo, de certo modo, para estarem repletas dele, contê-lo e significá-lo. 

A contemplação é esse eco. É uma profunda ressonância no mais íntimo centro de nosso espírito, onde nossa própria vida perde sua voz específica e ecoa a majestade e a misericórdia daquele que é oculto mas Vivo.É um despertar, uma iluminação, e a apreensão intuitiva, espantosa, com que o amor se certifica da intervenção criadora e dinâmica de Deus em nossa vida cotidiana. 

A contemplação, portanto, não “encontra” simplesmente uma ideia clara sobre Deus, confinando-o dentro dos limites dessa ideia, retendo-o como um prisioneiro a quem se pode sempre voltar. Pelo contrário, a contemplação é que é por ele arrebatada e transportada ao próprio domínio dele, seu mistério, sua liberdade.

  

Thomas Merton




 

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