QUANDO A PESSOA SE TORNA CONSCIENTE, SE TORNA SÓ
Você não pode tornar outra pessoa responsável por sua
evolução. Aceitar esta situação dá-lhe forças. Você está no seu caminho
para crescer, para evoluir.
Nós criamos deuses,
ou nos refugiamos nos gurus, de tal forma que não tenhamos
responsabilidade por nossas próprias vidas, por nossa própria evolução.
Nós tentamos colocar a responsabilidade em algum lugar distante de nós.
Se não somos capazes de aceitar algum deus ou algum guru,
tentamos então escapar da responsabilidade através de intoxicantes, ou
drogas, através de alguma coisa que nos torne inconscientes.
Mas estes
esforços para negar a responsabilidade são absurdos, juvenis, infantis.
Eles apenas postergam o problema; não são soluções. Você pode postergar
até à morte, mas o problema ainda permanece, o seu novo nascimento
continuará no mesmo caminho.
Uma vez que você
começa a se tornar consciente de que somente você é responsável, não há
escape através de nenhum tipo de inconsciência. E você é tolo de tentar
escapar, porque a responsabilidade é uma grande oportunidade para a
evolução. Da luta que é criada, algo novo pode evoluir.
Tornar-se
consciente significa saber que tudo depende de você. Mesmo seu deus
depende de você, porque ele é criado por sua imaginação. Tudo no fundo é
uma parte de você, e você é responsável por ela. Não há ninguém para
ouvir suas desculpas, não há cortes-de-apelos. Toda responsabilidade é
sua. E você é sozinho, absolutamente sozinho.
Isto precisa ser compreendido muito claramente. No momento em que uma
pessoa se torna consciente, ela se torna só. Assim não fuja desse fato
através da sociedade, dos amigos, das associações, das multidões. Não
fuja dele! É um grande fenômeno; todo o processo da evolução trabalha em
direção a isso. A consciência chega ao ponto agora onde você sabe que
está só. E somente no estado de ser sozinho é que você pode atingir a
iluminação.
Eu não estou falando de solidão.
O sentimento de solidão é aquele que vem quando o indivíduo foge do
estado de ser sozinho, quando o indivíduo não está pronto para
aceitá-lo. Se você não aceitar o fato de ser sozinho, então você se
sentirá solitário, encontrará alguma multidão ou alguns meios
de intoxicação que o levará a esquecer-se a si mesmo. A solidão criará sua
própria mágica do esquecimento.
Se você puder estar só, mesmo que por um momento apenas, totalmente só,
o ego morrerá; o “Eu” morrerá. Você explodirá, você não será mais. O
ego não pode permanecer só. Ele só pode existir em relação a outros.
Sempre que você está só, um milagre acontece. O ego torna-se fraco,
agora ele não pode continuar a existir por muito tempo. Assim, se você
pode ser corajoso o bastante para estar só, gradualmente
tornar-se-á sem ego.
Estar só é um ato muito
consciente e deliberado, mais deliberado do que o suicídio, porque o ego
não pode existir sozinho; mas ele pode existir no suicídio. As pessoas
egoísticas são as mais propensas ao suicídio. O suicídio está sempre em
relação a alguém, nunca é um ato de isolamento. No suicídio o ego não
sofrerá. Ao contrário, tornar-se-á mais expressivo. Entrará em um novo
nascimento com força maior.
Através do
isolamento interior o ego se desmancha. Não há nada com que se
relacionar, desta forma não pode existir. Assim, se você está pronto
para estar só, não vacilantemente — nem retrocedendo, nem fugindo,
apenas aceitando o fato do isolamento tal como ele é —, tornar-se-á em uma
grande oportunidade.
Você é como uma semente quepossui muito
potencial. Mas lembre-se, a semente deve destruir-se a si mesma
para a planta crescer. O ego é uma semente, uma potencialidade. Se ele é
destruído, o divino nasce. O divino não é nem o “Eu” nem o “Vós”, é o Um. Através do isolamento interior você chega a esta unicidade.
Você
pode criar falsos substitutos para esta unicidade. Os hindus tornam-se
um, os cristãos tornam-se um, os maometanos tornam-se um; a Índia é um, a
China é um. Isto são apenas substitutos para a unicidade. A unicidade
vem somente através do isolamento interior total.
Uma
multidão pode chamar a si mesma de um, mas a unicidade está sempre em
oposião a alguma outra coisa. Já que a multidão está com você, você se
sente descontraído. Agora você já não é mais o responsável. Você não
destruiria um templo sozinho, você não incendiaria uma mesquita sozinho,
mas como parte de uma multidão você pode fazê-lo, porque agora você não é
individualmente responsável. Todos os outros são responsáveis, assim
ninguém em particular é responsável. Não há consciência individual,
somente consciência grupal. Você regride na multidão e se torna como
um animal.
A multidão é um falso substituto
para o sentimento de unicidade. Aquele que está consciente da situação,
consciente da sua responsabilidade como um ser humano, consciente da
dificuldade, da tarefa árdua que vem com o ser humano, não escolhe
quaisquer substitutos falsos. Ele vive com os fatos como são; ele não
cria qualquer ficção. Suas religiões, suas ideologias políticas, são
apenas ficções, originando um sentimento ilusório de unicidade.
A
unicidade vem somente quando você se torna ausente de ego, e o ego pode
morrer somente quando você está totalmente só. Quando você está
completamente só, você não é. Aquele exato momento é o momento da
explosão. Você explode para dentro do infinito. Isto, e somente isto, é
evolução. Eu a chamo revolução, porque não é inconsciente. Você pode
tornar-se sem ego ou não. Depende de você.
Estar
só é a única revolução real. Muita coragem é necessária. Somente um
Buda está só, somente um Jesus ou um Mahavir está só. Não que eles
tenham deixado suas famílias, abandonando o mundo; parece assim, mas não
é assim. Eles não estiveram abandonando coisas negativamente. O ato era
positivo; era um movimento em direção ao isolamento. Eles não estavam
abandonando. Eles estavam em busca do encontro no isolamento interior.
A
busca toda é por aquele momento de explosão quando o indivíduo está
isolado. No isolamento há regozijo. E apenas então a iluminação é
obtida. Nós não podemos estar isolados, os
outros não podem tampouco estar isolados, assim nós criamos grupos,
famílias, sociedades, nações. Todas as nações, todas as famílias, todos
os grupos, são feitos de covardes, daqueles que não são corajosos o
suficiente para estarem sós.
Coragem real é a coragem de estar só. Significa entendimento consciente do fato de que você é
sozinho e não pode ser diferente. Você pode ou enganar-se a si
mesmo ou viver com este fato. Você pode continuar enganando-se a si
mesmo por vidas e vidas, mas continuará simplesmente num círculo
vicioso. Somente se viver com este fato do isolamento, o círculo é
quebrado e você pode vir ao centro. Aquele centro é o centro da
divindade, do todo, do santo.
Osho
Pablo Picasso disse que não se pode fazer nada sem a solidão. Reflitamos a respeito. KyraKally
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