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sexta-feira, 11 de março de 2016

QUE FÁCIL É DESTRUIR 
AQUILO QUE AMAMOS!

Que fácil é destruir aquilo que amamos! Quão rapidamente se interpõe entre nós uma barreira, uma palavra, um gesto, um sorriso! A saúde, o humor e o desejo projetam uma sombra, e o que era brilhante, se torna opaco e opressivo. Desgastamo-nos pelo trato e pelo costume, e aquilo que resultava nítido e claro, se torna tedioso e confuso. A causa da fricção constante, a esperança e a frustração, o que era belo e sensível se converte em temível e expectante. 

A relação é complexa e difícil, e poucos saem dela ilesos. Embora gostaríamos que fosse estática, duradoura, contínua, a relação é um movimento, um processo que deve ser profundo e plenamente compreendido e não ajustado a um padrão interno ou externo. O ajuste, que é a estrutura social, perde seu peso e sua autoridade só quando há amor. O amor na relação é um processo purificador, posto que revela as modalidades do eu. Sem esta revelação, a relação muito pouco significa.

Mas, como lutamos contra esta revelação?  A luta adota muitas formas: dominação ou submissão, temor ou esperança, inveja ou aceitação, e assim sucessivamente. A dificuldade está em que não amamos; e se amamos a alguém, queremos que esse amor funcione de um modo particular, não lhe damos liberdade. Amamos com nossas mentes e não com nossos corações. A mente pode modificar-se, mas o amor não. A mente pode fazer-se invulnerável, porém, o amor não; a mente pode sempre isolar-se, ser exclusiva, tornar-se pessoal ou impessoal. O amor não pode ser comparado nem se lhe podem impor limitações. 
 
Nossa dificuldade radical nisso é que chamamos amor, mas que, na realidade, pertence a mente. Preenchemos nossos corações com as coisas da mente e assim nos mantemos sempre vazios e expectantes. É a mente que se apega, que inveja, retém e destrói. Nossa vida está dominada pelos centros físicos e pela mente. Nós não amamos, ansiamos ser amados; damos com o fim de receber, que é a generosidade da mente e não do coração. A mente está buscando sempre certeza, segurança, então pode a mente assegurar o amor? Pode a mente, cuja essência é temporal, capturar o amor, o qual representa a própria eternidade?

Mas, mesmo o amor do coração tem seus próprios truques; temos corrompido tanto o nosso coração que este se tornou vacilante e confuso. Isto  que faz com que a vida seja tão penosa e aborrecida. Por um momento acreditamos que temos amor, e no momento seguinte o perdemos. Chega-nos uma força imponderável que não é da mente e cuja origem não podemos desentranhar. Esta força é outra vez destruída pela mente; porque nesta batalha a mente parece invariavelmente vencedora. Este conflito interno não pode ser resolvido nem pela mente astuta nem pelo vacilante coração. Não há meios, não há método algum para colocar fim a este conflito. Mesmo a busca de um meio é outro impulso da mente para ser a senhoria, para apartar o conflito a fim de estar em paz, de ter amor, de “chegar a ser” alguma coisa.

Nossa maior dificuldade está em perceber, de maneira ampla e profunda, que não há nenhum meio para amar se esse amor é um objetivo desejado pela mente. Quando compreendemos isto a fundo, então, existe uma possibilidade de receber algo que não é deste mundo. Sem o contato desse algo, seja lá o que for que façamos, não pode haver uma felicidade duradoura na relação. Se você recebeu esta bênção e eu não, é natural que ambos estejamos em conflito. Você pode não estar em conflito, porém, eu estarei; minha pena e minha dor farão com que me isole. A dor é tão exclusiva como o prazer, e até que não exista esse amor que nada pode fabricar, a relação seguirá sendo penosa. Se existe a bênção desse amor, você não pode senão amar-me, seja lá o que for, porque então você não modela o amor conforme a minha conduta. Quaisquer que sejam os truques que a mente possa jogar, ambos estamos separados; ainda que possamos estar em contato um com o outro em alguns aspectos, a integração não pode sê-lo com você, se não que há de estar dentro de mim. Esta integração não é produzida em nenhum momento pela mente; surge só quando a mente está por completo silenciosa, quando chega ao limite de suas próprias possibilidades. Só então não há dor na relação.

 
Krishnamurti 



"Tratava-se de um rabino de vida solitária, conhecido na aldeia onde morava como extremamente santo e puro. Um dia, uma jovem, que vivia na mesma comunidade ficou grávida e seus parentes perguntaram quem era o pai da criança. Ela disse que era o rabino. A família decidiu então que, quando a criança nascesse iria entregá-la ao rabino, e assim foi feito. Levaram o recém-nascido até ele e o pai da moça disse-lhe: "Ela afirma que este é seu filho e nós o trouxemos aqui, pois cabe a você educá-lo". Sem nada dizer, o rabino ficou com a criança por muitos anos. Um dia, a jovem, que já havia passado por uma profunda transformação, confessou aos pais que mentira, há anos, quando dissera ser o rabino o pai de seu filho. Ela realmente não tinha certeza de quem era o pai, mas segundo o que dizia agora, o rabino decididamente não o era, porque nunca tivera relações com ele. Voltaram todos, então, à casa do rabino e disseram-lhe que a moça estava confessando não ser ele o pai da criança. Diante disso estavam eles aí para levar o menino de volta. O rabino, sem se alterar, pegou a criança, já criada, e restituiu-a aos familiares". Quando penso no amor, no verdadeiro amor, lembro-me imediatamente dessa história. KyraKally

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