O SEMEADOR
Disse Jesus:
"Eis que o semeador saiu a semear.
Encheu a mão e lançou as sementes.
Algumas caíram no caminho e tornaram-se
alimento para os pardais.
Outras caíram entre os espinhos que sufocaram
a semente e o verme a devorou.
Outras caíram em terreno pedregoso;
aí não puderam lançar raízes na terra.
Outras caíram em terra excelente
e produziram bom fruto em direção ao Céu.
Produziram sessenta em cento e vinte por medida."
Esta citação faz
lembrar a importância do terreno
que recebe a semente. O crescimento do
germe divino
semeado em cada um de nós depende de nossa
maneira de
receber. O sentido da palavra varia
segundo o ouvido que a escuta. A semente, isto é,
a informação criadora - é a mesma para todos;
a variedade dos frutos deve-se ao terreno que a recebe.
O caminho simboliza a
"vida habitual", a rua principal
com suas atrações. A informação
criadora recebida por uma consciência dispersa, distraída, não pode
desabrochar,
no homem não chega ao íntimo, não habita nossa
profundidade; pode-se reduzir o Evangelho a uma
conversação de salão, a
uma tagarelice, a um produto
de consumo ou diversão como outro
qualquer..
A semente pode,
igualmente cair entre os espinhos.
O espinheiro simboliza a consciência
crítica,
analítica que caracteriza certos espíritos contemporâneos
e que
sufoca a espontaneidade da vida. Aí também, a informação criadora não
pode se encarnar e se expandir.
O conhecimento de si,
mencionado no Evangelho, não é introspecção, autoanálise perpétua que
nos inibe e esteriliza. Trata-se de um estado de atenção ao que é - sem
julgamento, "sem por que" dizia Meister Eckhart. O verme no meio dos
espinhos que ameaça devorar é o narcisismo. A consciência,
incessantemente voltada para si mesma, nos impede o próprio movimento do
Logos em seu desenvolvimento essencial.
O terreno pedregoso no
qual a semente não consegue penetrar simboliza na Bíblia a dureza do
coração. - "O coração de pedra", aquele que se fecham que recusa as
informações criadoras. A coisa mais grave que nos pode acontecer é
"que
nosso coração de carne se torne um coração de pedra". Muitas vezes,
somos empedernidos porque temos medo.
O próprio corpo se contrai, se
fecha, se defende e
segrega nos músculos uma estranha couraça.
Confunde-se a dureza com força. A dureza exterior oculta
a fragilidade
ou moleza interior como a carapaça do camarão. Aquele que é sólido
interiormente - que tem uma coluna vertebral - não precisa "brincar de
durão"; pelo contrário, pode até mesmo mostrar-se terno, vulnerável, e
acolher sem receio a informação criadora. Torna-se, assim, uma terra
boa.
A terra boa é o coração
lavrado - esse tema será tomado no Evangelho segundo Tomé. Lavrado pela acesse ou pelas provocações da vida, tornou-se menos empedernido,
menos
distraído, menos egocentrado. Esse longo trabalho retirou dele os
espinhos e as pedras. Daqui em diante,
está aberto e
torna-se capaz de escutar e meditar a Palavra de Deus, a informação
criadora que murmura em suas veias; então, o bom fruto do Despertar
começa a se erguer.
Jean-Yves Leloup em O Evangelho de Tomé
Permanecemos no aguardo que o Senhor faça tudo por nós. É por essa razão que a 'esperança' é ainda pouco entendida pela maioria. É uma palavra parecida com 'esperar' e, então, contamos sempre com a ajuda do Alto, que certamente virá, porém não como imaginamos. Precisamos cuidar do terreno onde essa semente será depositada e ninguém poderá fazer isso por nós, é uma atitude que se iniciará com a persistência e a oração. O centramento em ideias superiores e a disposição para a mudança devem estar sempre presentes em nossas ações. É um viver diário de entrega à Vontade Divina. "O Pai e eu somos UM". "O Pai em mim é Quem faz as Obras". KyraKally
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