INVESTIGUE, NÃO SIGA.
Tendes que ser "impiedosos" com vós mesmos e viver no "verdadeiro estado de investigação". A menos que vos investigueis profundamente, em vosso interior, não tendes possibilidade de descobrir o que é verdadeiro.
Ninguém vos pode levar a esse descobrimento - ninguém! -
e, tampouco, nenhum sistema.
A verdade não é uma coisa estática, que fica à vossa espera, enquanto seguis um sistema uniforme,
enquanto praticais dia a dia um certo método,
enquanto aprimorais a vossa mente e o vosso coração
para alcançar aquele estado a que chamais "a verdade".
A Verdade não espera por vós!
Não procureis um caminho, um método. Não há métodos
nem caminho para a verdade. Não procureis um caminho,
mas tornai-vos apercebidos do obstáculo. O apercebimento não é apenas intelectual; é simultaneamente mental e emocional;
é a plenitude da ação. Então, nessa chama de apercebimento, todos esses obstáculos se desmoronam porque os penetrastes. Então podereis perceber diretamente, sem escolha, aquilo que é verdadeiro. A vossa ação será assim oriunda da plenitude
e não da insuficiência da segurança; e nessa plenitude, nessa harmonia da mente e do coração, está a realização do eterno.
Só os indivíduos amadurecidos encontrarão a Verdade.
Aquele que alcançou a madureza não segue caminho algum, seja o caminho dos Adeptos, seja o caminho do saber,
da ciência, do devotamento ou da ação.
O homem que foi posto num determinado caminho,
não está amadurecido e não encontrará, jamais, o Eterno,
o atemporal... Aqueles de nós que estão seguindo determinados caminhos, tem interesses adquiridos,
interesses mentais, emocionais e físicos, e esta é a razão
porque achamos tão difícil o amadurecer;
como nos será possível abandonar aquilo que estamos
apegados há cinquenta ou sessenta anos?...
Mas, vós vos entregastes a uma organização, da qual sois presidente, secretário ou simples membro... O homem que se entregou a um determinado caminho ou norma de ação,
está preso a sistemas, e não encontrará a Verdade.
Através da parte nunca se encontra o todo.
Através de uma estreita fenda da janela, não podemos ver o céu, o céu maravilhoso e brilhante, só pode ver com clareza o céu o homem que está de fora, longe de todos os caminhos,
de todas as tradições, e nesse homem há esperanças...
Aquele que deseja descobrir a verdade, o real, o eterno,
cumpre que abandone todos os livros, sistemas, "gurus",
pois aquilo que deseja achar só encontrará quando compreender a si próprio. É a Verdade que liberta;
não o meio, ou o sistema.
Só a Verdade pode nos libertar. A compreensão apenas
pode vir quando não estamos seguindo alguém,
quando não existe a autoridade de espécie alguma - seja
a autoridade da tradição, seja a autoridade dos livros,
do guru, da nossa própria experiência. Nossa experiência é resultado de nosso condicionamento, e tal experiência
não pode nos ajudar a descobrir o que é a Verdade.
Visto que a nossa mente está, em geral, narcotizada
pelas ideias de outras pessoas e pelos livros, como também
está constantemente a repetir o que outros disseram, tornamo-nos repetidores e não pensadores.
Se citais o Bhagavad-Gita, ou a Bíblia, ou os livros sagrados chineses, por certo não fazeis mais do que repetir. Não achais?
E o que repetis não é a Verdade. É uma mentira,
pois a Verdade não pode ser repetida. Uma mentira
pode ser ampliada, encarecida e repetida, mas a Verdade
não pode; e enquanto repetis a Verdade, deixa ela de ser a Verdade, e por isso são destituídos de importância os livros sagrados, uma vez que através do autoconhecimento,
através de vós mesmos, podeis descobrir o eterno.
Para mim, a verdade, essa integridade de que falo,
encontra-se em todas as coisas. Portanto, a ideia de que necessitais progredir em direção a realidade, é uma ideia falsa. Não se pode progredir na direção de uma coisa
que sempre está presente. Não se trata de avançar para o exterior ou de voltar-se para o interior, mas sim
de se libertar dessa consciência que se percebe a si mesma
como separada. Quando houverdes realizado tal integridade, vereis que tal realidade não têm ela futuro nem passado;
e todos os problemas relacionados com tais coisas desaparecem inteiramente. Uma vez que o homem realize isso,
vem-lhe a tranqüilidade, não a da estagnação,
porém a da criação, a do ser eterno.
Para mim a realização desta verdade
é a finalidade do homem.
Algumas pessoas vão à Índia, mas não sei por que fazem isso:
a verdade não está lá; o que está lá é a fantasia, e a verdade
não é uma fantasia. A verdade está onde você está.
Não em algum país estrangeiro, mas onde você está.
A verdade é o que você está fazendo, como está se comportando. Está aí, não nas cabeças raspadas
e naquelas bobagens que os homens têm feito.
Os que desejam deveras descobrir a Verdade relativa
aos seus problemas, devem, naturalmente,
por à margem tudo quanto é autoridade.
Isto é dificílimo, porque quase todos nós estamos
cheios de temor. Precisamos de alguém para nos escorar,
para nos dar coragem; precisamos do "irmão mais forte" - aquele que mora na Rússia, ou na Inglaterra, ou na América, ou do outro lado do Himalaia, ou "ali na esquina".
Todos precisamos de alguém para ajudar-nos.
Enquanto estivermos encostados em alguém,
nunca chegaremos a compreender o "processo"
do nosso pensar; negaremos, assim, a nós mesmos,
o descobrimento da Verdade.
Ansiamos a segurança e esse anseio é um obstáculo
à nossa libertação pelo conhecimento da Verdade.
Cada um de nós deseja submeter-se a algum padrão;
porque a submissão é mais fácil do que a vigilância.
A submissão a padrões representa a base de nossa existência social, pois temos medo de estar sós. O temor e a renúncia
ao pensar acarretam a aceitação e a submissão,
a aceitação de autoridade. Tal como acontece com o indivíduo, assim também acontece com o grupo, com a nação.
A Realidade só pode manifestar-se quando a mente percebe
o seu próprio processo, percebe o quanto está condicionada e livre do seu próprio processo de reconhecimento.
Só então há possibilidade de a mente ficar tão tranquila
que seja capaz de receber aquilo que é a Verdade.
A Verdade é atemporal. Não depende do tempo.
Por consequência, não pode ser aprendida e guardada
para uso, ou lembrada e seu nome repetido.
A Verdade é criadora. É ela sempre nova
e a mente nunca pode compreende-la.
A verdade não está longe de nós. Ela se acha à nossa frente,
só temos de saber olhá-la. A mente cheia de preconceitos, conclusões, crenças, não tem nenhuma possibilidade de vê-la; um dos nossos piores preconceitos é o processo analítico. Percebendo isso, o abandonareis. E, uma vez abandonado,
ele não tornará a enredar-vos; nunca mais pensareis com propósitos de ascensão, de repressão, de resistência,
porque tudo isso está implícito na análise.
Para descobrir o que é verdadeiro, ou qual a finalidade da vida, ou para achar a verdade relativa a reencarnação ou qualquer problema humano, aquele que investiga, que busca a verdade, que deseja conhecer a verdade, precisa estar
absolutamente certo de suas intenções.
Se estas consistem em procurar segurança ou conforto,
evidentemente ele não deseja a verdade; porque a verdade pode ser uma das coisas mais devastadoras e desconfortáveis para quem procura segurança ou conforto.
O homem que busca o conforto, não deseja a verdade:
deseja apenas segurança, proteção, um refúgio
onde não seja perturbado. Já o homem que busca a verdade, tem de abrir-se às perturbações; porque só nos momentos
de crise há o estado de alerta, há vigilância, ação.
Só então aquilo que é pode ser descoberto e compreendido.
( final da 1ª parte)
Krishnamurti
Será que realmente estamos dispostos a encontrar a Verdade ou estaremos o tempo todo sendo engolidos pela atração e beleza da planta carnívora ?(sociedade) KyraKally
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