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sábado, 13 de maio de 2017

PERGUNTAS INTERESSANTES


RESPOSTAS REFLEXIVAS


Pergunta: Pode dizer-nos como chegou a este grau de compreensão?
 

Krishnamurti: Receio que fosse demorar muito tempo, e pode ser muito pessoal. Em primeiro lugar, Senhores, eu não sou um filósofo, não sou um estudante de filosofia. Penso que aquele que seja apenas estudante de filosofia está já morto. Mas vivi com toda o gênero de pessoas, e fui criado, como talvez saibam, para levar a cabo uma certa função, um certo cargo. Mais uma vez, isso significa “explorador”. E era também o dirigente de uma enorme organização em todo o mundo, para fins espirituais; e vi a falácia disso, porque não se pode conduzir os homens à verdade. Só se pode torná-los inteligentes através da educação, o que nada tem a ver com sacerdotes e os seus meios de exploração – as cerimônias. Portanto dissolvi essa organização; e, vivendo com as pessoas, e não tendo uma ideia fixa sobre a vida, ou uma mente limitada por um determinado contexto tradicional, comecei a descobrir o que, para mim, é a verdade: verdade para toda a gente – uma vida que se pode viver saudavelmente, sensatamente, humanamente, não baseada na exploração, mas nas necessidades. Sei o que preciso, e que não é muito, portanto quer trabalhe para elas escavando um jardim, ou falando, ou escrevendo, isso não é de muita importância.

Em primeiro lugar, para descobrir qualquer coisa, tem que haver um grande descontentamento, um grande questionamento, infelicidade; e muito poucas pessoas no mundo, quando estão descontentes, desejam acentuar esse descontentamento, desejam passar por ele para descobrir. Geralmente as pessoas querem o oposto. Se estão descontentes, querem felicidade, ao passo que, por mim – se me permitem ser pessoal – eu não queria o oposto, eu queria descobrir; e assim gradualmente através de vários questionamentos e através de um atrito contínuo, cheguei a compreender isso a que se chama a verdade ou Deus. Espero ter respondido à pergunta.
 
 
Pergunta: Por que observar o tédio, a insatisfação e a solidão?

Krishnamurti: Quando nos observamos, não estamos nos isolando, ou nos limitando, ou nos tornando centrados em nós mesmos, porque nós somos o mundo e o mundo é nós. Isso é um fato. E quando nós, como seres humanos, examinamos todo o conteúdo da nossa consciência, de nós mesmos, estamos realmente investigando o ser humano como um todo — quer ele viva na Ásia, na Europa ou na América. Então, não se trata de uma atividade autocentrada. Quando nos observamos, não estamos nos tornando egoístas, centrados em nós mesmos, nos tornando cada vez mais neuróticos, desequilibrados; ao contrário, quando nos olhamos, estamos examinando todo o problema humano da desgraça, do conflito, bem como tudo quanto de aterrador o homem produziu para si mesmo e para os outros. Assim, é muito importante compreender este fato: nós somos o mundo e o mundo é nós. Você pode ter maneirismos superficiais, tendências superficiais, mas, na essência, todos os seres humanos, por toda parte deste mundo desafortunado, estão acometidos de angústia, de confusão, de agitação, de violência, de desespero, de agonia. Há então um espaço comum, sobre o qual todos nós nos encontramos. Assim, quando nos observamos, observamos os seres humanos.
 
 
Pergunta: Falais de destruir o muro de separação que existe entre a consciência individual e o puro ser que o indivíduo se acha em vias de realizar. Significará isto que, quando a totalidade é realizada, o indivíduo, como unidade de consciência na totalidade, cessa de recordar seus esforços para alcançar esta meta, assim como os seres amados de sua existência separada?

Krishnamurti:  Quando vos tornardes a totalidade, todas as coisas passam a existir em vós — os vivos como os mortos. Não se trata mais de separação. A questão da separação surge somente quando vós, como indivíduo, vos encontrais autoconscientes, vos achais em limitação. Quando estiverdes em união com a Vida, não mais se tratará de nascimento e morte, de separação, de dor, de esforço — sereis todas as coisas, ter-vos-eis tornado essa totalidade. Estas perguntas surgem pelo fato de contemplardes a vida por meio de uma mente que é finita, sempre do ponto de vista pessoal, com o desejo de vos apegardes à separatividade, temerosos de perderdes aqueles a quem amais; ao passo que, se contemplardes o amor como sendo a própria eternidade, sem olhar às pessoas, então, neste, todas as pessoas estarão integradas. O Amor a tudo integra, não conhece separação.
 
 
Pergunta: Pode-se ser completamente feliz quando nosso irmão se acha em cativeiro?

Krishnamurti: Por acaso quando vosso irmão está doente, vós o ficais também? Quando alguém é esmagado por um automóvel, por acaso vos atirais sob as rodas do mesmo e vos fazeis despedaçar? Não quereríeis antes atingir a felicidade eterna que vos capacite proporcionar a paz aos outros? É uma ideia bem falaz a de que não podeis ser felizes se os outros forem infelizes. Como podereis auxiliá-los a possuírem a felicidade, se vós próprios não tiverdes a compreensão e a realização da felicidade? Se certas pessoas no mundo forem cegas, tornar-vos-eis por acaso cegos afim de ajuda-los? Se alguém não possuir abundância de experiência, deveis por isso rejeitar a experiência? Se algumas pessoas não houverem fixado sua meta na existência e não procurarem seu atingimento, fareis vós a mesma coisa? É bem grotesco o imaginardes que podeis auxiliar às pessoas descendo a seu nível, antes do que elevando-as até o vosso. Para poderdes ajudar àqueles que estão na tristeza, aos que estão sofrendo, àqueles que se acham em cruel cativeiro, não vos haveis de tornar vós próprios de espírito estreito, emaranhados pelos dogmas, colhidos pelo temor e engaiolados nas limitações estreitas. Ao contrário, fugireis a essas coisas se realmente quereis ajudar. Para ajudar com verdade tendes que haver ultrapassado a necessidade de ajuda.  

 
Pergunta: Haveis dito que não podemos fugir à tristeza. Como pode uma pessoa contristada ser feliz?

Krishnamurti: A resposta é muito simples: Não pode. Porém a tristeza dá o perfume da vida. Não podeis atingir a perfeição sem lágrimas, nem chegar à consecução sem sorrisos. Todos vós tendes medo à tristeza. Porém a tristeza dá a força que vos há de sustentar em vossa luta; e a tristeza é experiência. Convidai a tristeza para o vosso coração e não a eviteis nem a deixeis de parte por temerdes a dor. Como podeis ser felizes sem o entendimento da tristeza? Como podeis ter simpatia sem haver tido lágrimas nos olhos? Como podeis produzir ou criar alegria no coração dos outros, se em vós próprios não tiverdes tido o êxtase? Necessitais de todas as coisas e a tristeza é tão nobre como a alegria. Somente por vestir-se a tristeza de preto é que ela é tornada horrível. Sem provar de toda a experiência, como a abelha prova toda a flor num jardim, jamais podereis atingir a felicidade eterna a qual é libertação do jugo da experiência. Vós quereis atingir sem luta. Pensais atingir grandes alturas por algum milagre. Por isto é que tendes tantos credos, tantas religiões, tantos ritos, tantas escórias para vos sustentar. Temeis fazer face a vós próprios e às vossas fraquezas. Somente pelo entenderdes essa fraqueza e a vencerdes é que podeis atingir à perfeição. 
 
 
Fonte: pensarcompulsivo  


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