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sexta-feira, 26 de maio de 2017

O CAMINHO DA BELEZA DIVINA


 
Para certos temperamentos, é quase impossível tomar a senda da análise introspectiva (vichara). Suas mentes não foram constituídas de uma maneira que lhes permita fixarem seus pensamentos neste tema. O que então lhes cabe fazer?

A maneira do estudante sair desta dificuldade é principiar por se ajustar ao ritmo de inspiradas obras artísticas, ou por cultivar emoções elevadas induzidas ante a beleza da Natureza.

Um quadro pintado por uma mão genial, um poema de alguém sensível ao aspecto natural da vida, o tocar de um violino por um mestre como Kreisler, um passeio através dos bosques de outono, uma contemplação do brilho do sol sobre as plantas, ou a visão de uma antiga igreja à luz do sol no ocaso: tudo isto pode lhe despertar delicados sentimentos, que em regra jamais o poderiam fazer as atividades comuns da vida cotidiana.

Nestes momentos há um poder espiritual de que nos recordamos muito tempo após haverem passado. Inteligentemente utilizados, podem tornar-se como a escada de Jacó, estendendo-se da terra ao céu.

Hoje em dia, o artista inspirado faz as vezes do sacerdote, tornando-se o instrumento daquele aspecto do Poder Superior que se revela no homem como beleza.

O artista, o escritor e o músico se encarnam em sua obra, e se ele for abençoado com inspirações elevadas, se ele se sentar aos pés da divina beleza ou verdadeira sabedoria, então no grau em que puderdes submeter-vos à sua influência, partilhareis com ele destas inspirações.

Em presença de alguma grande cena da Natureza, o ser humano é inconscientemente levado a recordar-se de seu verdadeiro lar espiritual. Ele se deleita com as brilhantes nuvens do céu, os prados pacíficos e os lagos plácidos, pois lhe recordam sua origem espiritual.

Às vezes, ao ouvir uma música de profunda inspiração, as nobres melodias de Bach ou as árias puras de Mozart, ou detendo seu olhar nalguma cena de montanha, o homem recebe insinuações de uma vida superior. A música, sendo a mais direta de todas as artes, propicia o meio mais autêntico de expressão espiritual.

Aqueles que procuram recolher em suas mentes a colheita mundial de beleza e sabedoria impressas, sentem-se movidos a isso por um instinto que vem de eras remotas. Quando nossos olhos contemplam uma página escrita com gosto literário e cintilante de áureos pensamentos espirituais, percebemos um misterioso sentimento confirmando o que lemos.

O estudante que se sinta empolgado pela grande literatura deveria escolher um livro, ou algumas passagens de determinado livro, que lhe façam um profundo apelo ou pareçam trazer em si um sopro de inspiração; que sobre ele exerçam um efeito exaltador, que lhe chegue com a força de uma mensagem das regiões superiores.

Se preferir a grande poesia e aurir seu poder, poderá sentir esta inspiração em algum poema de Francis Thompson, num soneto de Shelley ou composição lírica de Keats, e em alguns dos cintilantes versos de George Russel.

Se optar pela prosa, há escritores que acendem a centelha divina da arte criadora e inflamam a chama da imaginação humana. O ensaio de Emerson sobre a autoconfiança, por exemplo, apresenta, pelo menos, uma centena de sentenças notáveis. Passai uma hora com Emerson e estareis em companhia dos grandes.

Que o estudante selecione um parágrafo ou fragmento de qualquer livro antigo ou moderno que mais lhe fale no íntimo, e rumine-o mentalmente, procurando reverentemente aurir seu significado e penetrar no ritmo espiritual ou na onda de longitude mental que lhe transmita. Faça-o com a máxima lentidão, com a máxima concentração que lhe for possível, mantendo o coração e a mente integrados no trecho escolhido, enquanto as palavras lhe vibram na alma.

O estudante também pode despertar a intuição por outras vias. Cabe-lhe escolher o meio que sinta ser o mais forte para si. Poderia obter o mesmo resultado ouvindo músicas compostas por verdadeiros gênios. Uns lograrão este estado interno através de um livro, outros através da música, e assim por diante.


Paul Brunton


Fonte:yogaensinamentos
 

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