A Dependência Deve Ser Transcendida,
Para Que Surja a Autorresponsabilidade
Para Que Surja a Autorresponsabilidade
Pergunta: Como distinguir a interdependência da dependência, e alcançar o verdadeiro discernimento sobre o que é ser independente?
Resposta: O
processo de crescimento é o avanço desde a dependência para a
interdependência. Nós nascemos, em primeiro lugar, porque alguma mulher
nos carregou durante cerca de nove meses em seu útero, e nos alimentou.
Uma criança abandonada após o parto iria chorar até morrer. As crianças
que são alimentadas mas não são acariciadas nem ganham colo, isto é, não
recebem amor e calor humano, também morrem. Não existe algo como “homem
independente”. Desde a nossa infância, ocorre uma contribuição de
muitas pessoas para nós sejamos quem somos. Para as nossas necessidades
básicas de alimentação, de roupas e de abrigo, nós dependemos de outros.
Também somos emocionalmente dependentes dos outros, e da mesma forma os
outros dependem de nós. Observamos esta dependência e interdependência
nos reinos inferiores da natureza, e neste caso ela é descrita como simbiose, o que significa uma vida conjunta de organismos diferentes. Mutualismo é uma forma de simbiose em que a relação entre os indivíduos produz benefício para eles. No entanto, o parasitismo
é a forma de simbiose em que um indivíduo é dependente e se beneficia
às custas do outro. A interdependência pode facilmente degenerar em
dependência se recebemos passivamente e sem retribuir. Passamos a usar o
outro até o ponto de tirar dele sua energia física ou psíquica.
No
momento em que reconhecemos que nós também necessitamos fazer nossa
própria contribuição, o processo se torna uma interdependência. Caso
contrário somos parasitas, ou, como o Bhagavad Gita assinala,
somos apenas ladrões que recebem sem fazer uma retribuição. A lei da
fraternidade universal se expressa no processo de cooperação entre os
seres. Sabemos que uma cidade entra em completo caos quando os coletores
de lixo, ou os químicos e farmacêuticos, ou os motoristas, entram em
greve. Quando um país sofre de alguma calamidade, tal como terremoto,
tsunami, fome ou recessão econômica, os seus efeitos são sentidos em
outros países.
Em
última instância, independência e interdependência devem ser elementos
de um estudo sobre Carma Coletivo. “Ninguém pode cometer um erro
sozinho, nem arcar sozinho com as consequências do erro.” Através das
nossas ações boas ou más, nós aceleramos ou retardamos o progresso da
raça humana, ainda que em uma proporção muito pequena. Por exemplo,
vivendo neste século, temos à nossa disposição comodidades como um
transporte melhor, computadores e equipamentos elétricos. Mas isso
também significa ter que suportar crime, corrupção e poluição. Este é o
aspecto coletivo do carma. Nele nós compartilhamos e suportamos
consequências boas e más, pelo fato de fazermos parte do conjunto. Não
estamos sozinhos nesta peregrinação. Temos que “chegar ao destino” na
companhia de outros peregrinos e não através do isolamento. E no
entanto, ninguém pode nos tirar do atoleiro e colocar-nos sob o sol. A
mãe pode alimentar o bebê, mas a criança deve comer e fazer a digestão
do alimento. Assim, também, nós somos ajudados por seres espirituais,
mas cada indivíduo avança tomando decisões certas ou erradas. A
interdependência é um fator importante do progresso espiritual, e é
através da interdependência que a verdadeira independência é percebida.
A
família, a nação, a raça humana, etc., nos deram algumas
características, e, como indivíduo, cada vez que erradicamos uma má
tendência da nossa natureza pessoal fazemos uma contribuição para a
purificação das tendências da nossa família, da nossa nação e da raça
humana; estamos mudando seu Carma como coletividade e afirmando a nossa
independência. Mesmo vivendo na quarta ronda, Buddha e Shankara
possuíram um conhecimento que a média da humanidade só irá adquirir na
quinta e na sexta rondas.[1] O sr. William Judge escreve:
“Você
pode percorrer a trajetória necessária em 700 encarnações, em sete
anos, ou em sete minutos.” Um indivíduo pode avançar à frente da raça
humana. [2]
No livro “Letters That Have Helped Me”, William Judge diz:
“Estou
cansado das pessoas que bocejam uma e outra vez e são tão
norte-americanamente ‘independentes’ – como se os seres humanos pudessem
em algum momento ser independentes uns dos outros.” Este é o ponto
central da questão. Existe um estado de liberdade positiva, no qual o
indivíduo existe como um ser independente, mas unido a outros seres
humanos, e em unidade com o mundo e a natureza. Um homem realmente livre
desenvolveu a sua divindade até o ponto de ser capaz de viver com
outros homens e mulheres sem interferir em suas vidas.
NOTAS:
[1] As
Rondas são períodos extremamente longos de evolução das mônadas
humanas. O tema é abordado na obra “A Doutrina Secreta”, de Helena
Blavatsky. (CCA)
[2] “Letters That Have Helped Me”, William Q. Judge, Theosophy Co., Los Angeles, p. 21.
Segundo a teosofia clássica, a independência individual é indispensável para que exista um verdadeiro autoconhecimento. Sem autorresponsabilidade, não há autolibertação. A adesão cega a um grupo leva ao parasitismo dos “rebanhos” inconscientes. Neles, os cegos são conduzidos por cegos ao longo do caminho “largo e fácil” que perpetua a ignorância. Porém a indispensável independência individual é sobretudo interna, e não implica separação nem separatividade. A independência é relativa: ela anda junto com a interação e a interdependência que unem todos seres.
O texto acima é traduzido da edição de janeiro de 2010 da revista indiana “The Theosophical Movement”. O título original é “Questions and Answers”, e ele foi publicado nas páginas 29-31. (CCA)
O texto acima é traduzido da edição de janeiro de 2010 da revista indiana “The Theosophical Movement”. O título original é “Questions and Answers”, e ele foi publicado nas páginas 29-31. (CCA)
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