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sexta-feira, 7 de junho de 2024

 SILÊNCIO E RECOLHIMENTO

Muitos já passaram pela experiência de chegar a lugares em que a natureza exprime grande harmonia e perceberem-se convidados ao silêncio. A natureza é espontaneamente silenciosa: as plantas crescem em silêncio, o Sol brilha em silêncio, o dia e a noite sucedem-se em silêncio. E mesmo quando os seres e os elementos da natureza emitem sons, conseguem fazê-lo sem romper essa condição de harmonia.

Nos momentos de reencontro com o silêncio temos lampejos da nossa integração na Totalidade. São momentos valiosos, mesmo quando logo depois os condicionamentos e hábitos afirmam o contrário.

A estrutura da civilização moderna afastou-nos do silêncio e, assim, continuamente perdemos a oportunidade de penetrar a via de união com o que há de mais verdadeiro em nosso interior. A agitação e o bulício cotidianos nas cidades enfatizam outros aspectos da existência, e não aqueles voltados para uma vida mais ampla. Somos sempre chamados a colocar a atenção em superficialidades, a valorizar em excesso as aparências; desse modo, pouco a pouco nos deixamos envolver por elas e nos distanciamos de uma percepção mais profunda da vida.

O silêncio é básico para o equilíbrio integral do ser e para a sua evolução. Num sentido bem amplo, seu cultivo não implica necessariamente privação do uso da palavra, embora essa prática possa estar incluída de forma moderada. A esse propósito, um filósofo disse que a abstenção de palavras é como a casca de um fruto; a casca não é o fruto, mas o protege enquanto ele cresce. Assim, para chegarmos ao silêncio são requeridas ocasiões de recolhimento, de aquietação dos sentidos, de ausência de envolvimentos externos – ocasiões de união com o mundo interior.

O silêncio vai agindo dentro de nós com sua energia poderosa e pacificadora. Vai retirando véus, vai revelando-nos o modo de não ficarmos à mercê das influências externas, de reconhecermos a unidade da vida. Aproxima-nos da nossa real expressão.

Ao se conhecer o silêncio, conhece-se o amor. O silêncio vem ao encontro do ser quando este se volta para o interior de si mesmo. Essa aproximação é gradual. Do silêncio emerge a compreensão e, com ela, a diligência para o serviço.

Do silêncio provém a fortaleza para empreender novos caminhos. Fonte de sabedoria, nele está a paz e o poder da transcendência. O silêncio cura, transforma e eleva. Manifesta-se na ação e no recolhimento.

Sobre o recolhimento, sabemos ser um estado em que a mente e o sentimento são direcionados para o centro do ser, sem expectativas nem ansiedades. Silêncio e recolhimento estão intimamente ligados e são mais uma atitude interna que externa. Pode-se estar recolhido e em silêncio em meio à atividade, às pessoas, aos afazeres cotidianos. Tudo depende da sintonia em que a pessoa se coloca. No recolhimento, o silêncio se consagra, a verdade pode desvelar-se, transformações podem efetivar-se. O recolhimento é dinâmico. O recolhimento expande a consciência, pois a introduz em esferas mais abrangentes.

No recolhimento se reconhece o amor puro. Por esse amor se é transformado.

O silêncio para qualquer ser do planeta também é transformador.

Mas para os buscadores do Espírito, o silêncio é a própria luz do caminho.

José Trigueirinho Netto
https://www.otempo.com.br

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