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segunda-feira, 14 de agosto de 2023

 ORAR, ORAÇÃO... EM COMUNHÃO COM DEUS!

ORAR vem da palavra latina os (genitivo oris), que quer dizer boca, ou estar de boca aberta, expressão simbólica que diz admiravelmente do grande simbolizado.

Quando a ave-mãe vem com um biscato, todos os filhotes que se acham no ninho abrem a boca, para receber o alimento, porque a sua fome é grande, permanente, insaciável, devido ao seu rápido crescimento. Quem mais abre a boca, mais recebe.

Parafraseando o termo, poderíamos dizer que os filhotes famintos oram (Abrem a boca) com intensidade e assiduidade (“deveis orar sempre e nunca deixeis de orar”, dizia Jesus), com uma veemente passividade dinâmica; produzem um grande vácuo oral a fim de receber uma plenitude que vem de fora. Se não estabelecessem esse vácuo não lhes viria a plenitude, passividade dinâmica. Não se pode encher o que está cheio, só se pode encher o que está vazio. Se alguns desses filhotes não orasse, não escancarasse o bico, não revelasse vacuidade, o desejo de plenitude, passividade dinâmica, ficaria sem alimento, e acabaria por morrer de inanição.

Passando do símbolo para o simbolizado, diremos: a alma orante é uma alma de boca aberta, largamente aberta, à experiência do alimento divino, da luz e força do alto, do pão da vida, das águas vivas que jorram para a vida eterna.

“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça (verdade), porque eles serão saciados”.

Muitas pessoas só entendem por orar pedir algo a Deus; só se lembram de orar quando estão em apuros, quando as coisas da vida vão mal; mas, quando tudo vai bem, não acham necessário orar. Deus é, para eles, um expediente de última hora, uma espécie de servo às ordens, cuja principal função é atender às necessidades dos homens.
 
Mas, para homens de experiência profunda, orar não é primariamente pedir algo — é realizar alguém, é autorrealização. A função da oração é, para eles, um postulado vital, uma espécie de respiração da alma; eles compreendem a ordem do Mestre: “Orai sempre, e nunca deixeis de orar”, como se alguém lhes dissesse: Respirai sempre, e nunca deixeis de respirar, porque sem respiração não podeis viver.
 
Rezar, isto é, recitar, consiste em atos intermitentes — ao passo que orar é uma atitude permanente da consciência. E, por ser atitude vital, é compatível com qualquer ocupação exterior “Orar sempre” se refere a uma atitude permanente, a um modo de ser da alma, comparável à atitude de uma planta que volta as folhas ao sol a fim de ser por ele vitalizada.
 
O principiante necessita de certos lugares e de certas horas para orar, ao passo que o homem de experiência superior vive em oração permanente. E verifica que orar e trabalhar não são duas coisas incompatíveis uma com a outra. Pelo contrário, ele faz a experiência de que o trabalho exterior é beneficiado pela atitude de oração; as coisas, outrora prosaicas, são aureoladas de um halo de suave poesia, e as ocupações antipáticas se tornam simpáticas.
 
A vida de Jesus é essencialmente uma vida de oração permanente. A primeira palavra que o Evangelho refere de Jesus, aos doze anos, revela atitude de oração: “Não sabíeis que eu devo estar nas coisas que são de meu Pai?” Essas “coisas do Pai” se referem aos três dias que o menino passou em silêncio e oração.
 
Uma das últimas palavras de Jesus agonizante é uma oração: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito”.
 
Lucas resume os dezoito anos da adolescência de Jesus, em Nazaré, nesta única frase: “E Jesus foi crescendo em sabedoria e graça perante Deus e os homens”. E não terá esse longo período, mais da metade da sua vida terrestre, sido de oração e meditação no meio dos trabalhos?
 
Antes de iniciar a sua vida pública, retira-se Jesus ao deserto e passa 40 dias em oração.
 
Durante os três anos da sua vida pública, referem os Evangelhos a cada passo: “Ao pôr do sol retirou-se Jesus a um monte e passou toda a noite em oração com Deus”.
 
A sua transfiguração no Tabor, ocorre durante a oração.
 
A sua agonia, no Getsêmane, é acompanhada de oração, e ele pede a seus discípulos que orem.
 
Na santa ceia, o Mestre ora.
 
Ao subir aos céus, ele dá ordem a seus discípulos que permaneçam em oração constante até que venha sobre eles o espírito da verdade.
 
Orar era, para ele, um estado permanente de consciência cósmica, uma vivência na realidade do Cristo, obliterando quase totalmente a consciência telúrica do seu Jesus humano. No Tabor, durante a oração, a luz intensa do Cristo cósmico lucificou totalmente os invólucros opacos do corpo de Jesus, que se tornaram inteiramente transparentes. É o poder transfigurante da verdadeira oração.
 
Um dia, os discípulos lhe pediram: “Mestre, ensina-nos a orar, assim como também João ensinou a seus discípulos”.
 
É estranho que os discípulos façam esse pedido, quando o culto religioso de Israel constava principalmente de orações. Evidentemente, os discípulos de Jesus entendem por “orar” algo diferente daquilo que se praticava no Templo e na Sinagoga, antes uma atitude permanente do que atos intermitentes.
 
Por isto, o “Pai Nosso” não é a simples recitação verbal das sete petições dessa oração, mas sim um roteiro espiritual para orientar a alma.
  
Huberto Rohden
https://ihgomes.wordpress.com 

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