O SEGREDO DOS RELACIONAMENTOS
É A ATENÇÃO
"Todo
ser humano foi condicionado a pensar e agir de determinada forma –
condicionado por sua herança genética, pelas experiências da infância e
pelo ambiente cultural em que vive. Tudo isso não mostra o que a pessoa
é, mas como parece ser. Quando você julga alguém, confunde os modelos
condicionados produzidos pela mente com o que a pessoa é. Nossos
julgamentos também têm origem em padrões inconscientes e condicionados.
Você dá aos outros uma identidade criada por esses padrões, e essa falsa
identidade se transforma numa prisão, tanto para aqueles que você julga
como pra você mesmo.
Deixar de julgar não significa deixar de ver o que as pessoas fazem. Significa que você reconhece seus comportamentos como uma forma de condicionamento, que você vê e aceita tal como é. Não é a partir desses comportamentos que você constrói uma identidade para as pessoas.”
“Enquanto
o ego dominar a sua vida, a maioria de seus pensamentos, emoções e
ações virão do desejo e do medo. Isso fará você querer ou temer alguma
coisa que possa vir da outra pessoa. O que você quer dos outros pode ser
prazer, vantagem material, reconhecimento, elogio, atenção, ou
fortalecimento da identidade, quando se compara achando que sabe, ou que
tem, mais do que os outros. Você teme que ocorra o contrário – que o
outro seja, tenha ou saiba mais do que você – e que isso possa de alguma
forma diminuir a ideia que você faz de si mesmo.”
“Quando
você concentra sua atenção no presente – em vez de usar o presente como
um meio para atingir um fim – você ultrapassa o ego e a compulsão
inconsciente de usar as pessoas como meios para valorizar-se ao se
comparar com elas. Quando dá total atenção à pessoa com quem está
interagindo, você elimina o passado e o futuro do relacionamento –
exceto nas situações que exigem medidas práticas. Ao ficar totalmente
presente com qualquer pessoa, você se desapega da identidade que criou
pra ela. Essa identidade é fruto da sua interpretação de quem é a pessoa
e do que ela fez no passado. O segredo dos relacionamentos é a atenção,
que nada mais é do que calma alerta.”
“Se
o passado de uma pessoa fosse o seu passado, se a dor dessa pessoa
fosse a sua dor, se o nível de consciência dela fosse o seu, você
pensaria e agiria exatamente como ela. Ao compreender isso, fica mais
fácil perdoar, desenvolver a compaixão e alcançar a paz. O ego não gosta
de ouvir isso, porque sem poder reagir e julgar, ele se enfraquece.”
“Quando você acolhe qualquer pessoa que entra no espaço do Agora, quando permite que ela seja como é, a pessoa começa a mudar.”
“Saber
a respeito de alguém ajuda por motivos práticos. Nesse sentido não
podemos prescindir de saber a respeito da pessoa com quem nos
relacionamos. Mas quando essa é a única característica de uma relação,
fica muito limitador e até destrutivo. Os pensamentos e conceitos criam
uma barreira artificial, uma separação entre as pessoas. Suas interações
não ficam presas ao ser, mas à mente. Sem as barreiras dos conceitos
criados pela mente, o amor se torna naturalmente presente em todas as
relações humanas. A maioria dos relacionamentos humanos se restringe à troca de palavras – o reino do pensamento.
É fundamental trazer um pouco de silêncio e calma, sobretudo aos seus
relacionamentos íntimos. Se faltar silêncio e calma, o relacionamento
será dominado pela mente e correrá o risco de ser invadido por problemas
e conflitos. Se há silêncio e calma, eles se tornam capazes de dominar
qualquer coisa.”
“Ouvir
com verdadeira atenção é outra forma de trazer calma ao relacionamento.
Quando você realmente ouve o que o outro tem a dizer, a calma surge e
se torna parte essencial do relacionamento. Mas ouvir com atenção é uma habilidade rara. Em geral as pessoas concentra a maior parte da sua atenção no que estão pensando. Na
melhor das hipóteses ficam avaliando as palavras do outro, ou apenas
usam o que o outro diz para falar de suas próprias experiências. Ou então não ouvem nada mesmo, pois estão perdidas em seus próprios pensamentos.”
“Ouvir
com atenção é muito mais do que saber escutar. É estar alerta, abrir um
espaço em que as palavras são acolhidas. As palavras se tornam então
secundárias, podendo ou não fazer sentido. Bem mais importante do que
aquilo que você está ouvindo é o ato de ouvir em si, o espaço de
presença consciente que surge à medida que você ouve. Esse espaço é um
campo unificador feito de atenção em que você encontra a outra pessoa
sem as barreiras separadoras criadas pelos conceitos do pensamento. A
outra pessoa deixa de ser “o outro”. Nesse espaço, você e ela se tornam
uma só consciência.”
“Como
é que você pode se libertar da profunda e inconsciente identificação
emocional com o sofrimento, capaz de criar tanta dor em sua vida? Tome
consciência da dor. Tome consciência de que você não é esse sofrimento e essa dor.
Reconheça o que eles são: uma dor do passado. Tome consciência da dor
em você ou no seu parceiro. Quando conseguir romper sua identificação
inconsciente com essa dor do passado – quando souber que você não é a
dor – quando conseguir observá-la dentro de si mesmo, deixará de
alimentá-la e aos poucos ela irá se enfraquecendo.”
“O relacionamento humano pode ser um inferno, ou pode ser um grande exercício espiritual.”
“Quando
você observa uma pessoa e sente muito amor por ela, ou quando contempla
a beleza da natureza e algo dentro de você reage profundamente, feche
os olhos um instante e sinta a essência desse amor ou dessa beleza no
seu interior, inseparável do que você é, da sua verdadeira natureza. A
forma externa é um reflexo temporário do que você é por dentro, na sua
essência. Por isso o amor e a beleza nunca nos abandonam, embora todas
as formas externas um dia acabem.”
“Quando
você se apega aos objetos, quando você os usa para valorizar-se ante os
outros e aos seus próprios olhos, a preocupação com os objetos pode
dominar toda a sua vida. Quando se identifica com as coisas, você não as
aprecia pelo que são, pois está se vendo nelas. Se você desenvolve uma
apreciação pelo reino das coisas desprendidas do ego, o mundo à sua
volta adquire vida de uma forma que você não é capaz sequer de imaginar
com a mente”.
Eckhart Tolle
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