DA CRENÇA PARA A EXPERIÊNCIA
Até o fim da Idade Média, prevalecia na
cristandade o período da crença em Deus, na imortalidade, no Cristo, no
mundo espiritual. Com o fim da Idade Média, grande parte
da cristandade e da humanidade ocidental abandonou a crença, e, com o
início da Renascença, muitos proclamaram a ciência como elixir da
felicidade. A crença, que é um ato de boa vontade, foi substituída pela
ciência, que é um ato da inteligência.
Hoje, porém, após quase cinco séculos de
Renascença, e no apogeu da ciência, a nova humanidade está iniciando o
terceiro estágio da sua evolução ascensional, para além da crença e da
ciência — rumo à experiência de Deus e do mundo invisível. Se a crença
foi um ato de boa vontade, e a ciência um ato da inteligência — a
experiência é o despertar da razão, do Lógos, do Cristo.
A crença corresponde à infância.
A ciência é da adolescência.
A razão é da maturidade.
O grosso da humanidade continua no
período da crença, porque a imensa maioria do gênero humano se acha
ainda no plano da infância espiritual, em que a única atitude é a de
crer em Deus e no mundo espiritual. Nem é provável que, em tempo
previsível, haja uma humanidade que consiga ultrapassar o estágio da
crença, uma vez que a evolução progride com passos mínimos em espaços
máximos. Para esta humanidade, a crença é necessária, porque é um freio
disciplinar para conter o homem dentro de certos limites de moralidade.
Apenas uma pequena elite da humanidade
ocidental conseguiu ultrapassar a crença baseada em testemunhos alheios e
entrar na experiência própria de Deus e do mundo invisível. Os que perdem a crença sem atingirem a experiência caem facilmente na descrença. A elite dos experientes sabe que essa
experiência do mundo superior não é um ato transitório, mas uma atitude
permanente do homem, uma abertura ou receptividade em face do mundo
superior. Para ter experiência da Realidade invisível, deve o homem ser
invadido pela alma do Universo, que é Deus.
E, para que aconteça ao homem essa
invasão cósmica, deve ele oferecer ao invasor canais abertos; somente o
homem invadível pode ser invadido pela alma do Universo. Esta
invadibilidade ou disponibilidade cósmica do homem consiste num total
ego-esvaziamento, que, segundo leis infalíveis, preludia a
cosmo-plenificação, que certas teologias chamam “graça”.
A verdadeira meditação é idêntica a esse
ego-esvaziamento.
E, na linguagem dos Mestres, é um egocídio
voluntário,
após o qual nasce na alma o Cristo, ou o Reino de Deus.
Durante esse egocídio, ou
ego-esvaziamento, o homem ignora totalmente a sua personalidade humana,
mas fica perfeitamente consciente da sua individualidade divina. É um
estado 100% consciente e 0% pensante. Os Mestres da vida espiritual são
unânimes em exigir esse egocídio, para que possa nascer o Reino de Deus
no homem: “Se o grão de trigo (ego) não morrer, ficará estéril; mas, se
morrer, produzirá muito fruto”. “Eu morro todos os dias, e é por isto
que eu vivo; mas já não sou eu (ego) que vivo, é o Cristo (Eu) que vive
em mim”.
Após esse egocídio e esse nascimento do
Cristo interno, o homem tem experiência direta e imediata de Deus, da
sua alma imortalizável, e agora imortalizada. Já não é um ciente, mas um
experiente ou sapiente.
Esta experiência gera absoluta certeza
de Deus e da imortalidade, certeza essa que transforma toda a vida
individual e social do homem.
Da crença há um possível regresso para a descrença — mas da experiência não há regresso para a inexperiência.
A certeza dos verdadeiros iniciados não
vem da crença, menos ainda da ciência, mas vem da experiência. O homem
que não tem experiência de Deus e da imortalidade não realizou o destino
da sua existência.
Huberto Rohden
"Pedi, e vos será concedido; buscai, e encontrareis; batei, e a porta será aberta para vós. Pois todo o que pede recebe; o que busca encontra; e a quem bate, se lhe abrirá. …" Porém, não é somente uma vez que se pede, que se busca, que se bate... precisamos fazer isso constantemente, com todo ser, com todo amor, com todo o entusiasmo até 'realizar a experiência de Deus, que é o destino da nossa existência'. KyraKally
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