A VOZ DO SILÊNCIO - Parte 2
A grande vertical da mística do primeiro mandamento
se concretiza na vasta horizontal da ética do segundo mandamento:
''Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, com toda a tua alma,
com toda a tua mente e com todas as tuas forças- e amarás ao teu próximo
como a ti mesmo.''
E ele nunca mais
pergunta a si mesmo, quem é o meu próximo, porque todas as creaturas,
mesmo as mais distantes se tornaram próximas, desde que todas as
distâncias da ignorância foram eliminadas pela proximidade da sapiência.
Tempo e espaço deixaram de existir em face da imanência de Deus, do Deus do mundo em todos os mundos de Deus.
Ele
sabe que todas as creaturas são os seus próximos. E quando o homem
descobre o reino de Deus dentro de si mesmo, aqui e agora, não espera
mais a inauguração do reino de Deus para depois da morte, em algum
futuro ignoto, em alguma distância longínqua.
O seu céu começa aqui e agora pela autodeterminação do seu livre arbítreo, e não pelo alo-determinismo de algum fator externo.
Nascer,
viver e morrer, não resolvem o problema central da existência humana,
porque são coisas que apenas nos acontecem, por obra e mercê de
circunstâncias externas.
Nascemos, graças
a nossos progenitores, vivemos mercê dos alimentos que assimilamos, e
morreremos em virtude de um acidente, de uma doença ou da velhice. Nada
disto nos redime porque nada disto é obra nossa. É algo alheio a nós,
são alo- determinismos de fatores externos. Meu é somente o que eu mesmo
produzo: a autodeterminação do meu eu espiritual, do meu livre
arbítreo. Meu, sou somente eu, aquilo que eu sou interna e eternamente.
Nascer,
viver e morrer não me redimem da irredenção de mim mesmo. O que me
redime é um viver diferente, uma vivência mais intensa. A experiência
central da verdade sobre mim mesmo, o meu grande Eu sou, o renascimento
pelo espírito, como dizia o Divino Mestre.
Se
eu intensificar devidamente a minha vivência experiencial, e se esta
experiência da verdade sobre mim mesmo atingir o seu clímax, então serão
abolidos o morrer e o nascer. E só o viver, o grande e indestrutível
viver, a vida eterna, a integração da minha vida individual na vida
universal é que continuarão a existir.
Nem
o conformismo com as misérias da vida presente, nem o escapismo para um
céu, para uma zona longínqua, para além da morte, nada disto resolverá o
problema central da existência humana.
Somente
o transformismo, a total transformação de todas as minhas
materialidades pelo poder da espiritualidade é que resolverá o problema
da minha vida. ''O reino dos céus'', disse o divino Mestre, é semelhante
a um fermento que alguém tomou e ocultou em 3 medidas de farinha até
ficar tudo levedado. O fermento da experiência divina deve levedar,
transformar todas as massas da minha existência humana, aqui e agora, e
continuar para sempre. Nada de justaposição, nada de substituição,
somente a total permeação, e pela interpenetração é que resolve o
problema.
O reino do Cristo, escreve
Frederic Sandersno seu livro In The Power of The Infinite: ''O reino do
Cristo não jaz em alguma região longínqua; o reino de Deus não é
condicionado por tempo e espaço. Muitos pensam que a vida terrestre com o
seu sofrimento e as suas angústias, seja um estágio preliminar para a
vida eterna e que o homem deva suportar as misérias desta vida até que
soe a hora da libertação. Entretanto o reino dos céus ficará distante
enquanto nós o considerarmos distante. E, contudo é agora mesmo que
vivemos no reino de Deus, e não há nenhum outro mundo. Somente o nosso
consciente obscurecido é que nos torna cegos para as glórias do mundo
espiritual, no qual vivemos.
O homem, que
tem a permanente consciência da presença de Deus, vive agora mesmo na
harmonia do seu reino, numa atitude interna inatingível pelas
vicissitudes dos fenômenos externos. Não podemos descrever a um surdo as
belezas da música, nem podemos dar a um cego ideia das cores- e da
mesma forma não podemos fazer compreender as glórias do reino do Cristo a
um incrédulo que não as tenha experimentado pessoalmente.
Da
cadeia e do alcance dos seus próprios pensamentos tece o homem dia a
dia o seu céu e o seu inferno. Céu e inferno não são estados futuros que
nos esperem depois da morte. A morte não modifica em nada o estado do
homem; e os chamados mortos não estão mais perto de Deus do que os
vivos.
A morte não representa a transição
para um estado perfeito e definitivo. A disposição do espírito de um
defunto continua a ser a mesma após morte que foi durante a vida
terrestre. A revelação do reino de Deus se dá diariamente nas almas
capazes de recebê-la; e cada pensamento espiritual acelera o advento
universal do reino de Deus sobre a face da terra.
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