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sábado, 4 de julho de 2020

FOGE DA TUA 'FELICIDADE' - E SERÁS FELIZ

A felicidade eterna - Fé com virtudes & Doutrina católica

Com este capítulo atingimos um dos segredos centrais da verdadeira felicidade, por mais paradoxal que pareça o título acima. Ninguém pode ser íntima e solidamente feliz se não sacrificar a sua “felicidade” pela felicidade dos outros. Ninguém pode ser realmente feliz enquanto não se perder em algo maior do que ele mesmo.

Quem gira 24 horas por dia, 365 dias por ano, ao redor de si mesmo, do seu pequenino ego humano, dos seus pequenos prazeres e das suas mágoas pessoais, será necessariamente infeliz. Para ser profundamente feliz é indispensável abandonar de vez a trajetória do seu ego e lançar-se à vastidão do Infinito, permitindo ser invadido por Deus. E, como passo preliminar para essa mística divina, entusiasmar-se por alguma obra de ética humana, trocar o seu pequeno eu pessoal pelo grande nós universal.

Existe uma lei eterna que proíbe o homem de girar ao redor de si mesmo, sob pena de atrofia psíquica e espiritual, sob pena de ficar internamente doente e infeliz. A Constituição Cósmica exige que todo homem, para ser feliz, gire em torno da felicidade dos outros, ou, na frase lapidar do mais feliz dos homens que a história conhece, que “ame a Deus sobre todas as coisas e seu próximo como a si mesmo”, que “perca a sua vida – para ganhá-la”.

Julgam os ignorantes e inexperientes que este preceito evangélico, reflexo da sabedoria dos séculos, represente algum idealismo aéreo e impraticável; mas os experientes sabem que ele é sumamente realista, porque encerra o elixir da verdadeira felicidade. Quem nunca aplicou essa receita não sabe da sua eficiência; mas todos os que a aplicaram sabem que ela é 100% eficiente.

Nunca ninguém se arrependeu de ter sido altruísta, porém milhares e milhões se têm arrependido de terem sido egoístas. Se um egoísta pudesse ser realmente feliz, estaria ab-rogada a Constituição do Universo, teria o caos suplantado o cosmos. Ninguém pode ser feliz contra o Universo, mas tão- somente com o Universo – a lei básica do Universo, porém, é amor. “Quem quiser ganhar a sua vida, perdê-la-á; mas quem perder a sua vida por minha causa (do Cristo, que é o amor), ganhá-la-á.”

Milhares de pessoas só encontraram a sua felicidade no dia em que, esquecidas das suas próprias misérias, se condoeram das misérias alheias. Legiões de infelizes descobriram a felicidade no momento em que, deixando de gravitar em torno do seu pequeno ego, foram levar a algum doente uma palavra de consolo, um auxílio material, um bouquet de flores, para lhe amenizar a solidão e monotonia.

O ignorante procura a felicidade em querer receber – e não a encontra, porque isto é egoísmo; o sapiente, porém, encontra no dar a felicidade que não buscava; porquanto “há mais felicidade em dar do que em receber”. Quem só quer receber confessa que é pobre, indigente, miserável – mas quem quer dar, sempre dar, dar o que tem e dar o que é – esse prova que é rico, fonte de inesgotável riqueza.

No plano das quantidades, é verdade, quem dá empobrece, e quem recebe enriquece; mas, no plano da qualidade, quem quer receber empobrece, e quem dá enriquece.

O mestre que dá as suas ideias a seus discípulos não perde essas ideias; pelo contrário, quanto mais as dá mais firmemente as possui e mais aumenta o seu cabedal de ideias; dando-as aos outros. O homem que dá o seu amor a seus semelhantes não perde esse amor, mas tanto mais firmemente o possui quanto mais profusamente o distribui a seus semelhantes. Quem se recusa a dar seu amor aos outros perde-o – se é que o possuía! – porque, nesse mundo superior, dar é possuir tanto mais quanto mais se dá, ao passo que não querer dar é perder aquilo que se possui, ou julgava possuir.

Objetará alguém que também isto é egoísmo: querer enriquecer a alma pelo fato de dar aos outros.

Não é exato. Não é egoísmo. O verdadeiro altruísta não dá para receber algo em troca, da parte de seus semelhantes; se esperasse retribuição, mesmo que fosse em forma de gratidão e reconhecimento, seria egoísta. Que é que acontece? O altruísta não espera nada por seus benefícios, nem mesmo gratidão (embora o beneficiado tenha a obrigação moral de ser grato!). Entretanto, segundo os imutáveis dispositivos da Constituição Cósmica, ou Providência de Deus, é inevitável que o homem desinteressadamente bom seja enriquecido por Deus – por Deus, e não pelos homens! A distribuição dos benefícios que o altruísta faz é, por assim dizer, realizada na horizontal.

Mas o enriquecimento lhe vem na vertical. Distribui ao redor de si, a seus irmãos, mas recebe das alturas, de Deus – nem pode evitar esse enriquecimento de cima, uma vez que ninguém pode modificar, mesmo que quisesse, a eterna lei cósmica, que enriquece infalivelmente a todo homem desinteressadamente bom.

Esse enriquecimento, não há dúvida, é, em primeiro lugar, interno. Acontece, porém, que, não raro esse enriquecimento interno transborde também em prosperidade externa, devida à íntima relação entre alma e corpo. “Procurai primeiro o reino de Deus e sua justiça – disse o Mestre – e todas as outras coisas vos serão dadas de acréscimo.” Ser espiritualmente bom a fim de ser materialmente próspero, seria erro funesto. Em caso algum pode o espiritual servir de meio para todo o material. O homem realmente espiritual é incondicionalmente bom, pratica o bem única e exclusivamente por causa do bem, sejam quais forem as consequências externas dessa sua invariável atitude interna. “O reino de Deus e sua justiça” é a única coisa que o homem deve buscar diretamente, ao passo que “as outras coisas lhe serão dadas de acréscimo”, lhe advirão espontaneamente, sem que o homem as procure. Desde que o homem especule mercenariamente para receber qualquer benefício externo pelo fato de ser bom, já está num trilho falso, porque degrada as coisas espirituais a escravas das coisas materiais – e não pode ser feliz. O espiritual deve ser buscado incondicionalmente, sem segundas intenções – e Deus se encarregará do resto.

A felicidade pessoal não é, pois, algo que o homem deva buscar como prêmio da sua espiritualidade, nem mesmo como uma espécie de “céu” fora dele – essa felicidade lhe será dada como um presente inevitável, como uma graça, como um dom divino – suposto que ele seja incondicionalmente bom. Essa atitude interna de completo desinteresse, é claro, exige grande pureza de coração, e é por isto mesmo que o Nazareno proclama “bem-aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus”. “Pureza de coração” é isenção de egoísmo.

É imensamente difícil, para o homem profano, ser integralmente honesto consigo mesmo, não camuflar intenções, não criar cortinas de fumaça para se iludir egoisticamente sobre os verdadeiros motivos dos seus atos. Um homem que, digamos, durante dez ou vinte anos, praticou vida espiritual, mas não conseguiu prosperidade material, e se queixa desse “fracasso” descrendo da justiça das leis eternas que regem o universo e a vida humana, esse homem não é realmente espiritual, nutre um secreto espírito mercenário, esperando receber algo material por sua espiritualidade; não busca sinceramente o reino de Deus e sua justiça, e, por isto mesmo, não lhe são dadas de acréscimo as outras coisas.

Só um homem que possa dizer com Job, depois de perder tudo: “O Senhor o deu, o Senhor o tirou – seja bendito o nome do Senhor!” ou que compreenda praticamente as palavras de Jesus: “Quando tiverdes feito tudo que devíeis fazer, dizei: Somos servos inúteis; cumprimos apenas a nossa obrigação, nenhuma recompensa merecemos por isto” – só esse homem é realmente espiritual e descobrirá o segredo da verdadeira felicidade.

A felicidade, como se vê, tem de ser conquistada a preço da mais absoluta pureza de coração – e porque tão poucos são os que conseguem essa pureza sem jaça, por isto são tão poucos os homens realmente felizes.

“Estreito é o caminho e apertada é a porta que conduzem ao reino dos céus!”... O altruísmo de que falamos é um meio para o homem fechar as portas ao seu egoísmo pessoal e abrir a porta à invasão do seu grande Eu espiritual. Quem quer auto-realizar-se em sua alma, deve substituir o seu egoísmo pelo altruísmo. O ego só se encontra com Deus via tu.

Huberto Rohden, O Caminho da Felicidade
Curso de Filosofia da Vida
UNIVERSALISMO

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