SOBRE MORRER TODOS OS DIAS
"Aprenda como se você fosse viver para sempre.
Viva como se você fosse morrer amanhã".
(Mahatma Gandhi)
O pensamento é o resultado do passado a atuar no presente; as vagas do
passado estão de contínuo submergindo o presente. O presente, o novo,
está sempre sendo absorvido pelo passado, o conhecido. Para se viver no
presente eterno, é necessário morrer para o passado, para a memória;
nesta morte há renovação, sem a limitação do tempo.
Estende-se o presente para o passado e para o futuro; sem compreender-se
o presente, fica- nos fechada a porta para a compreensão do passado. É
tão fugaz a percepção do que é novo; nem bem o sentimos e já o submerge a
rápida corrente do passado, e o novo deixa de existir.
Morrer para todos os dias passados, viver cada dia renovadamente — tal
só é possível se formos capazes de estar passivamente vigilantes. Nessa
vigilância passiva nada se nos acrescenta; nela há uma tranquilidade
intensa, na qual se assiste ao desenrolar perene do novo, na qual o
silêncio se estende infinitamente.
Procuramos servir-nos do novo como meio de destruir ou consolidar o
velho, e com isso corrompemos o presente, no qual palpita a vida. O
presente renova, e dá-nos a compreensão do passado. É sempre o novo que
dá compreensão, e na sua luz assume o passado um significado novo e
vivificante.
Quando ouvimos uma coisa nova, ou a sentimos em nós, nossa
reação instintiva é compará-la com o velho, com algo já conhecido e
sentido, com uma lembrança já quase a apagar-se. Essa comparação dá
força ao passado, desfigura o presente, e por essa razão se transforma o
novo sempre em coisa passada e morta. Se fosse o pensamento-sentimento
capaz de viver no presente, sem o desfigurar, veríamos, então, o passado
transformar-se no presente eterno.
Para alguns de vós terão, porventura, estas palestras e exposições
despertado uma compreensão nova e estimulante; o que agora importa é que
se não ajuste o novo a velhos padrões de pensamento ou velhas
fraseologias. Deixai o novo como está, livre de contaminação. Se for ele
verdadeiro, a sua luz abundante e criadora dissipará o passado. O
desejo de dar permanência ao presente criador, de torná-lo prático ou
útil, despoja-o de seu valor. Deixai que o novo viva, sem estar ancorado
no passado, sem a influência deformadora de temores e esperanças.
Morrei para vossa experiência, para vossas lembranças. Morrei para
vossos preconceitos agradáveis ou desagradáveis. Morrer assim é
tornar-se incorruptível; tal estado não é de aniquilamento porém de
criação. É essa renovação que, se o permitirmos dissolverá os nossos
problemas, por mais complicados, e os nossos sofrimentos, por mais
intensos que sejam. Só na morte do “ego” haverá a vida.
Krishnamurti
Milan Kundera nos leva a reflexionar sobre os nossos apegos: "Não é fácil queimarmos documentos íntimos que nos são queridos, é como se confessássemos a nós próprios que já não temos tempo tempo, que vamos morrer amanhã; assim vamos sempre adiando o ato de destruição e um dia já é tarde demais. Contamos com a imortalidade e esquecemos de contar a morte". Não conseguimos ainda compreender e aceitar a morte, porque nos apegamos a tudo que um dia perecerá, razão essa que nos impede de morrer para nossas experiências. Nossa essência divina é imortal, está aqui em experiência e só pode expressar-se através do ego. O ego está lutando para permanecer vivo. Precisamos entender isso. Enquanto olharmos para esse conjunto -ego/espírito, separadamente não compreenderemos essa unidade, haverá sempre sofrimento. "Morrei para vossa experiência, para vossas lembranças. Morrei para
vossos preconceitos agradáveis ou desagradáveis. Morrer assim é
tornar-se incorruptível..." KyraKally
Nenhum comentário:
Postar um comentário