DESPROGRAME-SE
É contraproducente fazer esforço para mudar,
pois o que vai nos
transformar é a verdade: temos de observar a verdade para compreender
que nossa programação
não permite que sejamos nós mesmos.
É preciso reconhecer todas as reações que surgem
quando se olha para uma
pessoa, para uma paisagem ou
para si mesmo. É necessário observar como
se costuma
reagir ante determinadas situações.
Deve-se olhar com objetividade, como se fosse outra pessoa observando,
tomando consciência do que acontece dentro
e fora de si mesmo, com toda a
atenção (como ao dirigir
um carro). Isso deve ser feito sem julgamento
qualitativo, porque, se dermos rótulos às coisas, não as veremos
como
elas são. É necessário entender as coisa,
sem qualquer tipo de pré-julgamento.
Precisamos compreender que, com a palavra, ou com
o pensamento, temos o
costume de rotular as coisas e as pessoas, e depois, como consequência
disso, passamos a viver
o personagem do rótulo, e não a pessoa em si.
Pôr-se em contato com a realidade é olhar para ela sem querer
interpretá-la nem mudar nada, deixando que a realidade modifique a ordem
das coisas, brilhando por si mesma.
Se não mudamos espontaneamente, é porque resistimos a isso. No momento
em que descobrirmos os motivos da resistência, sem reprimi-la nem
rejeitá-la, ela desaparecerá sozinha. Quando existe sensibilidade em
nós, não é preciso violência para conseguir as coisas de que
necessitamos, pois tudo é resolvido através do entendimento e da
compreensão.
E seremos até surpreendidos ao ver como as coisas se
resolvem de acordo com a nossa compreensão da realidade,
sem que
tenhamos de lutar contra ela.
O reconhecimento da realidade é um convite
ao crescimento pessoal e à mudança.
“Mudar é impossível. Permaneçam como estão. Ame a si mesmo tal como são.
Não queiram mudar. Se a mudança de alguma coisa for possível, ela
ocorrerá por si mesma,
quando e se quiser.
Deixem-se a si mesmos em paz”.
Desprograme-se!
É muito importante você reconhecer que até agora foi um ioiô, subindo e
descendo de acordo com os problemas, os desgostos ou depressões que
enfrenta; que foi incapaz de manter um nível de estabilidade. É preciso
aceitar que passa a vida à mercê de outras pessoas, de coisas ou de
situações. Que está sendo manipulado ou que pode manipular os outros, as
coisas e as situações. Que não é dono de si mesmo, nem consegue olhar
as situações com sossego, sem pressa nem ansiedade.
Toda essa atitude depende apenas de nossa programação.
Nós somos
programados desde a infância pelas conveniências sociais, pelo que
chamam de educação, ou cultura.
Assim, vivemos dentro de um
proceder automático, e damos as respostas esperadas, diante de determinadas
situações, sem parar para pensar o que existe de correto na situação e
se ela está de acordo com o que nós somos de verdade.
Damos uma resposta
habitual e mecânica.
Somos programados conforme um conjunto de ideias convencionais e
culturais, que tomamos como verdades,
quando não o são. Por exemplo, a
ideia de pátria, de fronteiras e de hábitos culturais, que inclusive nos
levam a conflitos bélicos, quando nada têm a ver com a realidade.
Quando somos produtos de nossa cultura sem questionar coisa alguma, nós
nos transformamos em robôs.
A cultura, a religiosidade e as diferenças
raciais, nacionais ou regionais foram impressas na nossa mente, e nós as
interpretamos como se fossem reais.
Fácil e Difícil
Precisamos nos libertar de nossa história e da programação a que fomos
submetidos para poder responder por nós mesmos. Só o que nasce de dentro
para fora é autentico e pode nos libertar. Só podemos assumir e
considerar como nosso, alcançando assim a liberdade, aquilo que vem de
dentro.
“Conta-se que existia um grande professor chamado Buso, que era casado e
tinha uma filha. Todos da família eram conhecidos por sua grande
sabedoria e santidade. Um dia, um homem aproximou-se do professor e
perguntou: ‘A iluminação é fácil ou difícil? E Buso respondeu: ‘É tão
difícil quanto chegar à Lua’. Inconformado, o homem foi falar com a
mulher de Buso
e lhe fez a mesma pergunta. Ela respondeu: ‘É muito
fácil. Tão fácil quanto tomar um copo d’água’. O homem ficou intrigado
e, para livrar-se das dúvidas, fez a mesma pergunta à filha do
professor, que lhe respondeu:’Ora, se o senhor torna as coisas
difíceis, é difícil, mas se facilita tudo…
Difícil mesmo é a capacidade de ver, isto é, de ver com simplicidade,
com sinceridade, sem nos enganar porque ver significa mudar, ficar sem
nada a que se agarrar. E nós estamos acostumados a procurar apoio, a
andar com muletas. Quando chegamos a ver com clareza, temos de voar. E
voar significa nada temer, andar sem se agarrar a coisa alguma.
Precisamos desmontar a tenda em que nos refugiamos e continuar pelo
caminho que está adiante de nós, sem procurar apoio.
O pavor maior reside justamente na aniquilação de todo tipo
de medo, já
que ele sempre é o manto no qual nos envolvemos para não ver e não
sermos vistos. É duro deixar tudo para trás e enfrentar a felicidade,
quando não queremos ser felizes a esse preço. Neste caso, trata-se de
uma felicidade que deve ser expressada por nós mesmos, sem esperar que
nos seja entregue já pronta e embrulhada para presente. Embora todos
digamos que procuramos pela felicidade, na verdade não queremos.
Preferimos voltar ao ninho ao invés de voar, porque temos medo.
E o medo
é uma sensação que todos conhecemos, enquanto a felicidades é
desconhecida.
A primeira coisa que o bom terapeuta deve entender
é que as pessoas que a
ele recorrem não procuram a cura,
mas o alívio; elas não querem mudar,
porque
a mudança nos expõe e compromete.
É como aquele que estava mergulhado numa fossa,
com sujeira até a altura
do queixo, cuja única preocupação
era que ninguém aparecesse para fazer
chacotas, não se importando em ser ou não tirado dali. O problema,
portanto,
é que a grande maioria das pessoas compara a felicidade com
a
conquista dos objetos que desejam, quando, ao contrário,
a felicidade
reside precisamente na ausência dos desejos
e no fato de pessoa alguma
ter poder sobre nós.
Anthony de Mello
Para desprogramar precisamos mudar, nos transformar em uma pessoa nova, diferente. Estamos dispostos ? Se estamos é fácil. KyraKally
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